Duas coisas se perdem neste meio de comunicação. Meio de comunicação porque é de pôr em comum que se trata; pois, embora escreva estas notas soltas ao correr do teclado como se de um diário pessoal secreto se tratasse, sei bem que os meus estimados leitores estão aí desse lado. Afinal, é como se deixasse o caderno de apontamentos propositadamente esquecido na mesa do café, ou no compartimento do comboio, e ficasse escondido a observar, para poder ter, desta forma, duplamente, o perverso prazer voyeur de ver alguém pegar nele e lê-lo — atitude que, vice-versa, por educação e pudor, nunca teria em relação ao de outrém.
Dizia que duas coisas se perdem nesta «escrita à máquina» na «rede global»: são o tom e a caligrafia. O primeiro, vai todo pelo som e é o núcleo fundamental da linguagem oral, na medida em que reforça — ou cria, até, em certos casos — o verdadeiro significado das palavras. A derradeira, será a caligrafia. Sobre esta, múltiplas análises podem os especialistas produzir. Para já, constato com tristeza que está em vias de extinção. É portanto com nostalgia que deito os olhos a cartas escritas à mão, redigidas ainda na boa tradição epistolar — registo literário por onde passou tanta correspondência dos nossos antepassados: assim se namorou, se relataram viagens, se fizeram negócios, se participaram casamentos e nascimentos, se tomaram decisões privadas e públicas. Assim se fez História. E a grafologia não deixava mentir...
Vem tudo isto a propósito (ou a despropósito) de ter descoberto, qual sinal da idade, que a minha letra está a mudar.
Páginas
▼