sexta-feira, 18 de julho de 2025

DO LUAR

O luar é azul em Chateaubriand e Victor Hugo, amarelo em Beaudelaire e Leconte de Lisle. Cá para mim — crescente, cheia ou minguante —, a luz da Lua será sempre prateada.

DAS NOVAS FORMAS DE CONSERVAR A TRADICIONAL ARTE DE CONVERSAR

Durante anos a fio — os da saída da adolescência e de entrada na idade teoricamente adulta —, andei sempre com um caderno de bolso de capa preta dura e folhas brancas lisas metido na algibeira do blazer, ou do blusão de cabedal, ou na mão, estivesse eu num café, num cinema, numa tertúlia, num concerto, num fim-de-semana alucinante, ou numa viagem distante. Na sequência deste hábito, possuo dezenas deles guardados; mas, não convenientemente organizados. Tenho a clara sensação que ganharei em lê-los com bastante distância temporal, e sei que me surpreenderei quando o fizer. Só espero não me assustar com o que lá vier a ver quanto lhes puser de novo os olhos em cima. Anseio sim por lá encontrar registadas sínteses das melhores conversas que tive nesses anos.
Aqui no blogue — bloco de apontamentos dos novos tempos digitais —, a coisa processa-se de diferente maneira; pois, todos os santos dias pomos a escrita em dia e deitamos conta à vida, através das mensagens anteriores e do arquivo (sempre à mão de semear). Acresce ainda a isto, muito especialmente, a interacção com amigos que nos enriquecem com oportunas trocas de opiniões feitas por computador, telemóvel, ou ditas de viva voz — por vezes até ao vivo e a cores (as melhores, porque mais saborosas). Desta forma, lançando pontes, trata-se já de conversar — essa superior arte que permite estabelecer e definir afinidades.
À laia de remate, posso dizer que consegui assim colocar ao meu serviço os modernos canais de comunicação à distância, tendo no entanto a certeza de ser o tradicional contacto directo e de proximidade o fim que justifica a utilização destes novos meios.

CULTURA E DEMOGRAFIA

Gramsci, no século passado, chamou a atenção para a importância da cultura. Maomé, in illo tempore, definiu o papel decisivo da demografia. Ambos, hábeis políticos que eram, tinham razão; e, na realidade, a combinação dos dois factores revelou-se sempre determinante, ao longo dos tempos, para o sucesso de qualquer projecto geopolítico. Nações e impérios expandiram-se enquanto dominaram estes vectores e caíram quando deixaram de o fazer. Atendendo a que «o fim da História» afinal ainda não aconteceu, nem tampouco se deu ainda «o choque das Civilizações», as lições deles voltam a estar na ordem do dia.
E a conclusão é, portanto, simples: a civilização que tiver mais crianças e que conseguir educá-las nos seus valores acabará, mais tarde ou mais cedo, inevitavelmente, por triunfar; e, desta, vez, talvez seja para todo o presente milénio. É uma óbvia constatação de realpolitik.
Para mal dos nossos pecados, a Europa cristã definha, dia após dia, a olhos vistos, em ambas as coordenadas.

DA ARQUITECTURA E DO PAISAGISMO DE LISBOA

Urge que as alvas calçadas da bela cidade branca avancem em largura sobre o negro alcatrão das estradas e que nelas sejam plantadas árvores.

DA FILOSOFIA PRÁTICA

Releio a obra Die Spatziergänge oder die Kunst spatzieren zu gehen, de Karl Gottlob Schelle, na edição francesa, da Rivages Poche / Petit Bibliothèque, intitulada l'Art de se Promener, e prefaciada e traduzida por Pierre Deshusses.
A propósito: quando é que em Portugal se começam finalmente a fazer edições boas para o bolso e para a bolsa? Por enquanto, de um modo geral, costumam ser feíssimas e caríssimas.
Este livrinho, escrito em 1802 por um amigo de Kant e correspondente de Goethe, permanece para mim como o mais útil manual da arte de bem passear (não confundir com as famigeradas caminhadas e corridas). Dúvidas houvesse e ficaria demonstrado neste pequeno ensaio que a simples prática física do passeio, de preferência feito em boa companhia, propicia prazer estético, ao mesmo tempo que nos transporta a uma elevada dimensão espiritual.

QUANDO CERTAS COISAS MUDAM JÁ NADA FICARÁ NA MESMA

Duas coisas se perdem neste meio de comunicação. Meio de comunicação porque é de pôr em comum que se trata; pois, embora escreva estas notas soltas ao correr do teclado como se de um diário pessoal secreto se tratasse, sei bem que os meus estimados leitores estão aí desse lado. Afinal, é como se deixasse o caderno de apontamentos propositadamente esquecido na mesa do café, ou no compartimento do comboio, e ficasse escondido a observar, para poder ter, desta forma, duplamente, o perverso prazer voyeur de ver alguém pegar nele e lê-lo — atitude  que, vice-versa, por educação e pudor, nunca teria em relação ao de outrém.
Dizia que duas coisas se perdem nesta «escrita à máquina» na «rede global»: são o tom e a caligrafia. O primeiro, vai todo pelo som e é o núcleo fundamental da linguagem oral, na medida em que reforça — ou cria, até, em certos casos — o verdadeiro significado das palavras. A derradeira, será a caligrafia. Sobre esta, múltiplas análises podem os especialistas produzir. Para já, constato com tristeza que está em vias de extinção. É portanto com nostalgia que deito os olhos a cartas escritas à mão, redigidas ainda na boa tradição epistolar —  registo literário por onde passou tanta correspondência dos nossos antepassados: assim se namorou, se relataram viagens, se fizeram negócios, se participaram casamentos e nascimentos, se tomaram decisões privadas e públicas. Assim se fez História. E a grafologia não deixava mentir...
Vem tudo isto a propósito (ou a despropósito) de ter descoberto, qual sinal da idade, que a minha letra está a mudar.

segunda-feira, 14 de julho de 2025

DO VÍDEO, DA FOTOGRAFIA E DA ALQUIMIA

Existe um texto com quase 26 anos de idade que permanece ainda hoje como fonte principal de iniciação teórica ao trabalho de criação artística de João Marchante. Aqui o tendes, à distância de um clique:

Imediatamente antes, por Leonor Nazaré.

sábado, 5 de julho de 2025

DA BELEZA E DO BEM

Quem espera, encontra e cultiva estes supremos valores em epígrafe são os aristocratas do gosto e do espírito. Como recompensa têm efémeras sensações de serenidade e de felicidade, resultantes precisamente do vislumbre da beleza e do bem. É a verdade a revelar-se.

DAS ESTATÍSTICAS DO BLOGUE DOS ÚLTIMOS 15 ANOS

O recém-terminado mês foi o 4.º Junho com mais visualizações (16.528) desde o ano de 2010. Uma média diária de 550, portanto. Não ganho nada com isto, como se sabe. Mas não posso deixar de agradecer aos meus leitores.