O POETA MORTO
Barbearam-no e vestiram-no de preto,
Calçaram-lhe sapatos de verniz.
Moscas varejas chupam-lhe o nariz,
E ele mantém-se pálido e correcto.
Cheira a cera no quarto, já repleto
Do que há de mais distinto no país:
... Um general, dois lentes, um juíz...,
Com ar triste, imbecil, grave e discreto.
Logo, os críticos sérios e carecas
Folhearão no pó das bibliotecas
Um livro caluniado enquanto vivo
Esse a quem chamam hoje ilustre e augusto
Porque... porque ele, agora, é inofensivo
Como qualquer estampa ou qualquer busto!
JOSÉ RÉGIO
(1901 — 1969)
Calçaram-lhe sapatos de verniz.
Moscas varejas chupam-lhe o nariz,
E ele mantém-se pálido e correcto.
Cheira a cera no quarto, já repleto
Do que há de mais distinto no país:
... Um general, dois lentes, um juíz...,
Com ar triste, imbecil, grave e discreto.
Logo, os críticos sérios e carecas
Folhearão no pó das bibliotecas
Um livro caluniado enquanto vivo
Esse a quem chamam hoje ilustre e augusto
Porque... porque ele, agora, é inofensivo
Como qualquer estampa ou qualquer busto!
JOSÉ RÉGIO
(1901 — 1969)
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