PROSA QUE SE DEVORA
(...)
— Um dia destes — prosseguiu Markovic com o mesmo tom de voz — lembrei-me de uma coisa quando via televisão num hotel. Antigamente os homens olhavam para a mesma paisagem durante toda a sua vida, ou durante muito tempo. Até o viajante o fazia, pois qualquer caminho era longo. Isso obrigava a pensar sobre o próprio caminho. Agora, pelo contrário, tudo é rápido. Auto-estradas, comboios... Até a televisão nos mostra várias paisagens em poucos segundos. Não há tempo para reflectir sobre nada.
— Há quem chame a isso incerteza do território.
— Não sei como o designam. Mas sei o que é.
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— Um dia destes — prosseguiu Markovic com o mesmo tom de voz — lembrei-me de uma coisa quando via televisão num hotel. Antigamente os homens olhavam para a mesma paisagem durante toda a sua vida, ou durante muito tempo. Até o viajante o fazia, pois qualquer caminho era longo. Isso obrigava a pensar sobre o próprio caminho. Agora, pelo contrário, tudo é rápido. Auto-estradas, comboios... Até a televisão nos mostra várias paisagens em poucos segundos. Não há tempo para reflectir sobre nada.
— Há quem chame a isso incerteza do território.
— Não sei como o designam. Mas sei o que é.
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Arturo Pérez-Reverte, O Pintor de Batalhas, (Traduzido do espanhol por Helena Pitta), Edições ASA, Porto, Março de 2007.
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