segunda-feira, 2 de abril de 2007

EÇA DE QUEIROZ E O CINEMA PORTUGUÊS

É verdadeiramente espantoso que o Cinema Português apenas se tenha lembrado de Eça de Queiroz meia dúzia de vezes para produzir longas-metragens a partir de adaptações de livros seus. Se me admiro é porque me parece que qualquer cinéfilo ou cineasta que leia o grande escritor se apercebe de imediato que muitas das suas obras anunciam o Cinema, anos antes de este ser inventado, pois pintam paisagens rurais e urbanas a pedirem para serem tratadas na linguagem das imagens em movimento, e traçam retratos de figuras de fino recorte físico e psicológico prontas para serem encarnadas por actores. A escrita de Eça faz lembrar um argumento cinematográfico: na sua força descritiva, no seu poder de sugerir imagens, na completíssima construção de personagens e na estrutura narrativa cativante. Mas, se calhar, deve ser impressão minha...
Dito isto, e para que fique claro que não exagero, a lista dos filmes portugueses baseados em Eça de Queiroz aqui vai, por ordem cronológica (o primeiro, significativamente, é realizado por um cineasta francês que fez carreira em Portugal): O Primo Basílio (1923), de Georges Pallu; O Cerro dos Enforcados (1954), de Fernando Garcia; O Defunto (1954), de Fernando Garcia; O Primo Basílio (1959), de António Lopes Ribeiro; O Crime do Padre Amaro (2005), de Carlos Coelho da Silva.
Finalmente, após ter mencianado cinco obras, fica a faltar uma, para a tal anunciada meia dúzia. Seguir-se-á então a adaptação ao cinema de «Singularidades de Uma Rapariga Loura» — texto este incluído na compilação Contos, de Eça de Queiroz —, pela mão do realizador Manoel de Oliveira. Ficamos a aguardar, com elevada expectativa. Pode ser que a moda pegue...