PENSAR A SAUDADE
Que a saudade seja um sentimento é afirmação que, decerto, não levantará relevantes objecções. Que possa ser objecto ou tema de reflexão filosófica parece, igualmente, não suscitar dúvidas ou oposições consistentes. Que, no entanto, se possa pretender constituir a saudade algo de originário e radical, dotado de uma densidade ou de uma essencialidade ontológica, a ponto de nela se poder fundar um sistema filosófico ou encontrar respostas às primeiras interrogações metafísicas, por envolver ou implicar, em si, a mais séria e decisiva problemática não só antropológica como também cosmológica e teológica — desde o problema do mal e da liberdade, até ao da realidade do tempo e ao do mesmo e do outro e do uno e do múltiplo — é já tese que a muitos se apresentará desprovida de sentido ou razão filosófica, apesar da importância que o pensamento contemporâneo atribui à reflexão sobre sentimentos como a angústia, o desespero, a esperança ou o sentimento trágico, conferindo-lhes uma dimensão ontológica e deles partindo para uma demanda cujo destino é uma ontologia ou uma metafísica fundamental.
António Braz Teixeira, A Filosofia da Saudade, QuidNovi, 2006.
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