quarta-feira, 4 de julho de 2007

QUANDO CERTAS COISA MUDAM JÁ NADA FICARÁ NA MESMA

Duas coisas se perdem neste meio de comunicação. Sim, porque é de pôr em comum que se trata; pois, embora escreva estas notas soltas como se de um diário pessoal secreto se tratasse, sei bem que estão aí. Afinal, é como se deixasse o caderno de apontamentos propositadamente esquecido na mesa do café, ou no compartimento do comboio, para ter o prazer voyeur de ver alguém lê-lo; atitude esta que, vice-versa, por educação, nunca teria em relação ao de outrém.
Dizia eu que duas coisas se perdem. São o tom e a caligrafia. O primeiro, vai todo pelo som e é o núcleo fundamental da linguagem oral, na medida em que reforça — ou cria até — o verdadeiro significado das palavras. A derradeira, será a caligrafia. Sobre esta, múltiplas análises podem os especialistas produzir. Constato com tristeza que está em vias de extinção. É com nostalgia que deito os olhos a cartas escritas à mão, redigidas ainda na boa tradição epistolar, registo esse por onde passou tanta correspondência dos nossos antepassados. Assim se namorou, se relataram viagens, se fizeram negócios, se participaram casamentos e nascimentos, se tomaram decisões privadas e públicas. Assim se fez História. E a letra não deixava mentir.
Vem tudo isto a propósito (ou a despropósito) de ter descoberto que a minha letra está a mudar.