quarta-feira, 8 de agosto de 2007

ETERNAS SAUDADES DO FUTURO

Quando se vir com a água o fogo arder
e misturar co dia a noite escura,
e a terra se vir naquela altura
em que se vêm os Céus prevalecer;

O Amor por razão mandado ser,
e a todos ser igual nossa ventura,
com tal mudança, vossa fermosura
então a poderei deixar de ver.

Porém não sendo vista esta mudança
no mundo (como claro está não ver-se),
não se espere de mim deixar de ver-vos.

Que basta entrar em vós minha esperança,
o ganho de minh' alma e o perder-se,
para não deixar nunca de querer-vos.


LUÍS VAZ DE CAMÕES
(1524 — 1580)