sábado, 11 de agosto de 2007

PELO ESPÍRITO É QUE VAMOS

Salvo em alguns iletrados do povo e da sociedade, para os quais a diferença dos géneros é letra morta, o que aproxima não é a comunidade de opiniões, é a consanguinidade dos espíritos. Um académico do género de Legouvé e que fosse partidário dos clássicos aplaudiria da melhor vontade o elogio de Victor Hugo por Maxime Du Camp ou por Mézières que o de Boileau por Claudel. É um só nacionalismo que basta para aproximar Barrès dos seus eleitores, que não devem fazer grande diferença entre ele e o senhor Georges Berry, mas não é o mesmo dos seus colegas da Academia que, com as mesmas opiniões políticas mas com outro género de espírito, lhe hão-de até preferir adversários como os senhores Ribot e Deschanel, que se sentem muito mais perto da sua feição de fiéis monárquicos que de Maurras e de Léon Daudet, apesar de estes desejarem também o regresso do rei.
Em Busca do Tempo Perdido — À Sombra das Raparigas em Flor (1918), Marcel Proust, tradução de Pedro Tamen, edição Relógio D'Água Editores, Lisboa, Julho de 2003.