sábado, 4 de agosto de 2007

PLUS ULTRA

Sou — ai! —, eu sei que sou: bem-educado, reaccionário e romântico. Um bico de obra, é o que é! Nestes tempos de pensamento único, meteram na cachola do povoléu que ser-se bem-educado é sinónimo de ser-se parvo. Uma chatice. Volta e meia dou comigo a ter de pôr na ordem o portuga boçal e banal. Resultado: fica o pobrezinho de queixada descaída de espanto perante a reacção do educadinho. Esse mesmo portuga-tipo — que não o típico, que isso é outra conversa e trata-se de boa gente —, depois de se manifestar desconfiado perante alguma tirada da minha parte, julgando-me conservador, arrisca o ataque. Cobarde que é, só o faz quando mete no bestunto que não haverá reacção. Mas aí é que a coisa fia mais fino. O reaccionário — contrariamente ao conservador, que finge não perceber a boca ordinária e disfarça — reage, respondendo na mesma moeda, sendo que o troco usado se revela mais do que suficiente para esse peditório. Finalmente, sou romântico, já se sabe. Também aqui existe um equívoco que se pode revelar terrível para esses descerebrados. O portuguesinho confunde romantismo com sentimentalismo e lamechice. Está-se bem de ver que essa é uma característica bem sua, todo ele coração. Cumpre as regras burguesas do relacionamento social e sente-se feliz, todo ele tolo e contentinho. Filio-me eu, por outro lado e bem pelo contrário, na tradição romântica que vê na Alma o motor da vida. Procuro a minha Alma, a Alma de Portugal e a minha Alma gémea. Provavelmente nunca as encontrarei; mas, pelo menos, para além de tudo o mais, levo a vida a olhar para longe e para cima.