segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

CAMINHO (II)

II

Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quê, nem eu sei.
— Bom dia, companheiro — te saudei,
Que a jornada é maior indo sozinho.

É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei...
Na venda onde poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvário,
E queima como a areia!... Foi no entanto

Que chorámos a dor de cada um...
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos de beber do mesmo pranto.

CAMILO PESSANHA
(1867 — 1926)