segunda-feira, 25 de maio de 2009

SÉTIMA ARTE 9

Pelo Autor é que Vamos*
O autor dos filmes é o realizador.
Para que meio-mundo acreditasse nisto, foi necessário os jovens turcos dos Cahiers du Cinéma produzirem vasta teoria sobre a matéria, vertida em letra de forma em artigos na sua referida revista. Deles, falaremos aqui um destes dias.
Cá para mim, no entanto, quem tivesse olhos de pensar já teria percebido, ao ver os grandes filmes da época de ouro de Hollywood que, embora agrupados em géneros — categorias de produção industrial, mas também estéticas —, as ditas fitas tinham uma assinatura, toda ela marca d’água autoral, por parte do realizador.
Faça-se o teste: entremos numa qualquer sala de cinema a meio da exibição de um filme, vendados (sem saber ao que vamos, olhos e ouvidos tapados); depois, desvendados, recuperados os dois sentidos, e após dois minutos em contacto áudio-visual com a película projectada na tela, tentemos adivinhar quem é o seu realizador. Ah!, pois é, arriscado jogo voyeur este...
Porém, parece-me que quem for verdadeiramente cinéfilo — amigo do Cinema —, e tiver uma cultura filmográfica à altura, logo acertará na mouche: Antonioni, Fellini, Dreyer, Bergman, Ford, Hawks, Bresson, Truffaut, Kurosawa, Ozu — nomes saídos automaticamente, ao correr da pena —, e muitos outros, que poderíamos acrescentar por aí fora, têm marcas de tal forma fortes que ninguém que ame a Sétima Arte poderá confundi-los entre si.
Esta conversa toda tem por objectivo servir de introdução a uma abordagem — infelizmente pouco canónica para os padrões académicos culturalmente correctos — da História do Cinema através da Vida e Obra dos Autores.
Bem sei que não podemos ignorar as três grandes épocas: mudo, sonoro e moderno; nem as principais correntes: expressionismo alemão, impressionismo francês, mudo soviético, etc; nem tão pouco os géneros clássicos, que atingem o paradigma nos E. U. A. com os seus genres indígenas: western, gangsters, musical, aos quais eu gosto de acrescentar o film-noir.
Contudo, olhando noutra direcção, proponho que revisitemos esta Arte, que já atingiu a bela e matura idade de cem anos, tendo os realizadores — grandes mestres técnicos e criadores estéticos — como fios-condutores da sua História.
Assim o farei, já a partir do próximo número desta revista, começando, à boa maneira alfabética, por «A», de Alfred Hitchcock.
Até lá... — suspense...
João Marchante
*Texto escrito para a revista Alameda Digital (Ano II — N.º 9, Setembro/Outubro de 2007) e republicado agora nesta nova versão com ligeiras alterações no blogue Eternas Saudades do Futuro.