terça-feira, 23 de março de 2010

A MODERNA VIDA RODA-VIVA

Dantes, as pessoas tinham uma morada para toda a vida, ou, no máximo, duas: a primeira, durava desde que nasciam até que casavam; a outra, depois de saírem de casa dos pais, mantinha-se até à morte. Essa morada era ponto de partida e de chegada, para um Português que se prezasse, como bem mostraram os nossos descobridores antepassados de Quinhentos, os quais deram novos mundos ao Mundo e souberam regressar, cumprida a sua missão, à Capital do Império, não fosse ela — mítica e simbolicamente — fundada por esse eterno viajante Ulisses.
Agora, mudado o paradigma, vencido o Espírito pela matéria, guardo sempre umas horas — em geral, na rentrée — para ir actualizando as moradas e os telefones (com as modernas variantes de telemóveis e e-mails) de amigos, colegas e conhecidos. O frenesim dos dias de hoje é de tal ordem que há sujeitos que ocupam várias páginas nas minhas anualmente renovadas agendas, pois faço questão de manter os contactos anteriores, até porque alguns indivíduos voltam à base, vá-se lá saber porquê e para quê... Atendendo à «pós-moderna» situação, numa perspectiva económica — de espaço e dinheiro (as agendas estão caras) —, um amigo recomendou-me, certa vez, que usasse lápis e borracha...! Desta forma, poderia apagar e voltar a escrever, no mesmo sítio, os dados actualizados. Ele assim o dizia, e fazia-o. Só não adoptei essa sua engenhosa técnica porque escrevo sempre com caneta — de preferência, de tinta permanente e indelével. Aliás, para efémera, já basta a superficialidade destes tempos saltitantes, onde os «cidadãos» muito se mexem mas pouco longe vão, pois nada aprendem, mesmo quando feitos turistas massificados, à volta do globo, com roteiros pré-formatados.