sábado, 10 de abril de 2010

LISBOA DE OUTRAS ERAS

Ainda sou do tempo em que se tinha, para a vida, no bairro: um barbeiro, que nos cortava o cabelo e a barba pela primeira vez; um alfaiate, que nos fazia desde o primeiro fato até ao fraque para o casamento; uma mercearia, onde se punha na conta e os pais fingiam não perceber; uma pastelaria, onde se comia após uma noitada, já de manhã, e se voltava, quase a seguir, com os pais, para o pequeno-almoço antes da missa, e os empregados faziam de conta que não tínhamos lá estado antes; uma livraria, onde se deitava o olho a revistas atrevidas, e se liam os primeiros clássicos, e ainda onde, ao longo da vida, nos iam reservando livros, que sabiam ser do nosso gosto, sem nada termos pedido; um cinema, onde se assistia sempre à estreia do último filme do nosso realizador preferido; e, etc e tal...
Assim se vivia, dantes. Agora, sobrevive-se.