EXPRESSO DO OCIDENTE
Terça-feira, 15 de Fevereiro
A imprensa é unânime: de um momento para o outro - desconhece-se se por obra e graça exclusiva de uma máquina fiscal cada vez mais totalitária -, continua a aparecer por esse país fora gente morta há séculos sem que aparentemente alguém soubesse. Recordistas de telemóveis, portáteis e gadgets diversos, "permanentemente contactáveis" e prontos a atender o telefone mesmo nas ocasiões mais inacreditáveis (se é que me faço entender... - jurava há dias um estudo académico norte-americano), os europeus nunca estiveram provavelmente tão sós, tão distantes do seu próximo. No fundo, a indiferença é o ritmo próprio de um mundo que estupidifica os indivíduos e muito em especial os mais novos, um mundo herdeiro de uma divisão entre capitalismo e comunismo, filhos ambos de uma mesma linha de pensamento materialista que, ao lograr excluir alternativas do palco mediático, determinou a derrota, por muitas décadas, do espírito face à matéria. Os factos que por agora vão ocupando os jornais até que estes se esqueçam, um destes dias, da sua importância, são impressionantes por tudo o que revelam sobre a sociedade que foi sendo construída mas não causarão espanto aos menos desatentos. Se me permitem o recurso à lucidez usando cabeça alheia, tudo isto foi explicado por Frei Fernando Ventura numa notável entrevista que, no Outono de 2010, concedeu à SIC Notícias. Já aí se falava de "gerações de monstros", da "história dos novos e da memória dos velhos que não se encontram", dos "depósitos de velhos" e, como bem se recordam os que viram, de um país que mais se parece com uma "barraca com um submarino estacionado à porta". Vejam - ou revejam - que em qualquer dos casos não ficam a perder.
A imprensa é unânime: de um momento para o outro - desconhece-se se por obra e graça exclusiva de uma máquina fiscal cada vez mais totalitária -, continua a aparecer por esse país fora gente morta há séculos sem que aparentemente alguém soubesse. Recordistas de telemóveis, portáteis e gadgets diversos, "permanentemente contactáveis" e prontos a atender o telefone mesmo nas ocasiões mais inacreditáveis (se é que me faço entender... - jurava há dias um estudo académico norte-americano), os europeus nunca estiveram provavelmente tão sós, tão distantes do seu próximo. No fundo, a indiferença é o ritmo próprio de um mundo que estupidifica os indivíduos e muito em especial os mais novos, um mundo herdeiro de uma divisão entre capitalismo e comunismo, filhos ambos de uma mesma linha de pensamento materialista que, ao lograr excluir alternativas do palco mediático, determinou a derrota, por muitas décadas, do espírito face à matéria. Os factos que por agora vão ocupando os jornais até que estes se esqueçam, um destes dias, da sua importância, são impressionantes por tudo o que revelam sobre a sociedade que foi sendo construída mas não causarão espanto aos menos desatentos. Se me permitem o recurso à lucidez usando cabeça alheia, tudo isto foi explicado por Frei Fernando Ventura numa notável entrevista que, no Outono de 2010, concedeu à SIC Notícias. Já aí se falava de "gerações de monstros", da "história dos novos e da memória dos velhos que não se encontram", dos "depósitos de velhos" e, como bem se recordam os que viram, de um país que mais se parece com uma "barraca com um submarino estacionado à porta". Vejam - ou revejam - que em qualquer dos casos não ficam a perder.
Quinta-feira, 17 de Fevereiro
Há dias, no recomendável Pena e Espada, Duarte Branquinho citava Pierre Vial que rematava um raciocínio como segue: "Nós não temos ilusões: estamos e escolhemos estar no campo dos malditos. Para sempre. E estamos por gosto, já que é o único sítio no qual podemos cruzar-nos com homens e mulheres dignos de estima". Vem-me isto à cabeça no dia em que se passam três anos sobre a declaração unilateral de independência do Kosovo, um dos maiores disparates que a história das Relações Internacionais observou. Juravam então os estrafegas norte-americanos, ainda a recuperar dos alucinogéneos que lhes permitiram lobrigar armas de destruição em massa no Iraque e lançando mão de uma assinalável campanha de intoxicação ideológica, que daquele lado é que estavam "os bons". Os sérvios, esses… eram os bandidos. Ao longo destes três anos foram-se sucedendo os previsíveis reconhecimentos internacionais da marosca, incluindo o do governo português (o que por si só seria indício bastante para que a comunidade internacional pudesse verificar o erro...), mas o facto é que a engenharia foi um êxito: Hashim Thaçi, o obscuro primeiro-ministro kosovar, é agora acusado de tráfico de drogas, de armas e de órgãos humanos, para além de outros delitos menores. Uma coisa é certa: esta gente não se vai cruzar com Pierre Vial no "campo dos malditos". Valha-nos isso.
Há dias, no recomendável Pena e Espada, Duarte Branquinho citava Pierre Vial que rematava um raciocínio como segue: "Nós não temos ilusões: estamos e escolhemos estar no campo dos malditos. Para sempre. E estamos por gosto, já que é o único sítio no qual podemos cruzar-nos com homens e mulheres dignos de estima". Vem-me isto à cabeça no dia em que se passam três anos sobre a declaração unilateral de independência do Kosovo, um dos maiores disparates que a história das Relações Internacionais observou. Juravam então os estrafegas norte-americanos, ainda a recuperar dos alucinogéneos que lhes permitiram lobrigar armas de destruição em massa no Iraque e lançando mão de uma assinalável campanha de intoxicação ideológica, que daquele lado é que estavam "os bons". Os sérvios, esses… eram os bandidos. Ao longo destes três anos foram-se sucedendo os previsíveis reconhecimentos internacionais da marosca, incluindo o do governo português (o que por si só seria indício bastante para que a comunidade internacional pudesse verificar o erro...), mas o facto é que a engenharia foi um êxito: Hashim Thaçi, o obscuro primeiro-ministro kosovar, é agora acusado de tráfico de drogas, de armas e de órgãos humanos, para além de outros delitos menores. Uma coisa é certa: esta gente não se vai cruzar com Pierre Vial no "campo dos malditos". Valha-nos isso.
Sexta-feira, 18 de Fevereiro
Mantemo-nos nos domínios do inexplicável: a imprensa francesa dá ampla nota da última (e luminosa) intenção de Sarkozy: assustadíssimo com sucessivas sondagens que creditam Marine Le Pen com 20% das intenções de voto nas próximas eleições presidenciais, o presidente (semi-)francês lembrou-se de tentar seduzir o eleitorado nacionalista decretando a obrigatoriedade de celebrar em francês todas as celebrações religiosas - as Missas, portanto. A ideia atinge-se facilmente: chatear árabes, mesquitas e minaretes. Sarkozy - ou quem é pago para pensar por ele - esqueceu-se de dois pequeníssimos pormenores o que, sendo vulgar, talvez lhe possa agravar os dissabores que inicialmente pretendia evitar: há muita "extrême droite'' que reza em latim e, não menos relevante, há inúmeros emigrantes europeus totalmente integrados na sociedade francesa (portugueses, por exemplo), que celebram a Missa nas suas línguas de origem e que não tencionam alterar os hábitos menos profanos. Curiosamente e tanto quanto é possível saber, estes últimos votaram Sarkozy há cinco anos de uma forma esmagadora. Voltarão a fazê-lo se coisas deste tipo forem para levar a sério?
Contrariando a tese de que os homens são todos iguais, se uns decretam a mais há outros a quem nada se lhes ocorre: titula hoje o i que os ministros "trabalham cada vez menos" (o que, convenhamos, não espanta o cidadão comum e muito menos justifica a capa do periódico), e que os ministérios da Cultura e do Ensino Superior não produziram em 2010 um único decreto-lei. Ora eu, ao contrário da indignação da maior parte dos comentadores, estou-lhes grato e aplaudo o exemplo. Na mesmíssima semana em que se garante que Portugal esteve quarta-feira a uns minutos da bancarrota não fosse a rapidez com que o Banco Central Europeu desatou a comprar-nos a célebre dívida para salvar o pescoço do bloco central, estes dois titulares de importantes pastas poupam tinteiro, papel, agrafos, envelopes, estafetas, telefonemas e, de caminho, ainda poupam nos disparates. Pena que não poupem nos assessores que reúnem incansavelmente para concluir nada ser preciso decretar. Ainda assim e apesar de tudo, louvados sejam.
Mantemo-nos nos domínios do inexplicável: a imprensa francesa dá ampla nota da última (e luminosa) intenção de Sarkozy: assustadíssimo com sucessivas sondagens que creditam Marine Le Pen com 20% das intenções de voto nas próximas eleições presidenciais, o presidente (semi-)francês lembrou-se de tentar seduzir o eleitorado nacionalista decretando a obrigatoriedade de celebrar em francês todas as celebrações religiosas - as Missas, portanto. A ideia atinge-se facilmente: chatear árabes, mesquitas e minaretes. Sarkozy - ou quem é pago para pensar por ele - esqueceu-se de dois pequeníssimos pormenores o que, sendo vulgar, talvez lhe possa agravar os dissabores que inicialmente pretendia evitar: há muita "extrême droite'' que reza em latim e, não menos relevante, há inúmeros emigrantes europeus totalmente integrados na sociedade francesa (portugueses, por exemplo), que celebram a Missa nas suas línguas de origem e que não tencionam alterar os hábitos menos profanos. Curiosamente e tanto quanto é possível saber, estes últimos votaram Sarkozy há cinco anos de uma forma esmagadora. Voltarão a fazê-lo se coisas deste tipo forem para levar a sério?
Contrariando a tese de que os homens são todos iguais, se uns decretam a mais há outros a quem nada se lhes ocorre: titula hoje o i que os ministros "trabalham cada vez menos" (o que, convenhamos, não espanta o cidadão comum e muito menos justifica a capa do periódico), e que os ministérios da Cultura e do Ensino Superior não produziram em 2010 um único decreto-lei. Ora eu, ao contrário da indignação da maior parte dos comentadores, estou-lhes grato e aplaudo o exemplo. Na mesmíssima semana em que se garante que Portugal esteve quarta-feira a uns minutos da bancarrota não fosse a rapidez com que o Banco Central Europeu desatou a comprar-nos a célebre dívida para salvar o pescoço do bloco central, estes dois titulares de importantes pastas poupam tinteiro, papel, agrafos, envelopes, estafetas, telefonemas e, de caminho, ainda poupam nos disparates. Pena que não poupem nos assessores que reúnem incansavelmente para concluir nada ser preciso decretar. Ainda assim e apesar de tudo, louvados sejam.
Sábado, 19 de Fevereiro
Em vésperas do plebiscito a Sócrates a que por estes dias se dedica o agrupamento da rosa, Manuel Maria Carrilho acusa a direcção do partido de "impor regime de liberdade condicional aos militantes". É pena, para o país talvez não fosse pior ter-se optado pela prisão preventiva para a maior parte do clube...
Em vésperas do plebiscito a Sócrates a que por estes dias se dedica o agrupamento da rosa, Manuel Maria Carrilho acusa a direcção do partido de "impor regime de liberdade condicional aos militantes". É pena, para o país talvez não fosse pior ter-se optado pela prisão preventiva para a maior parte do clube...
Pedro Guedes da Silva
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