EXPRESSO DO OCIDENTE
Segunda-feira, 14 de Março
A notícia vai correndo, franjas do país entusiasmam-se: Sócrates falará à Nação pelas 20h00 e algumas almas bondosas mantêm a esperança de que o homem apresente a demissão. Como é evidente, não é esse o argumento da fraca curta-metragem. Convicto de que o seu governo arde em lume brando e de que pior ficará depois de conhecido em todo o seu esplendor o PEC4 - e os que eventualmente se lhe seguissem -, o engenheiro entendeu ser este o momento politicamente mais interessante para se deixar cair e aparentemente assim será: o plano vai ao parlamento, a oposição chumba-o e a criatura, daqui por semana e meia, voltará às televisões com ar de vítima para, então sim, decretar com ar enfadonho mas grave que a oposição não o deixa governar, especialmente agora que "iria aumentar as taxas cobradas à banca" pelo que "assim não há condições para prosseguir o caminho por uma sociedade mais justa e mais solidária". Naturalmente, usará mais meia dúzia de frases feitas mas sem conteúdo, rematando que solicitará ao "Senhor Presidente da República" que "devolva a palavra ao Povo". Feita a declaração - e cá estamos para ver se eu não tenho razão… -, seguirá com o ministro Silva Pereira e uma corte de assessores para a Bica do Sapato (a maior parte dos ministros restantes seriam barrados à porta em face da reserva do Direito de Admissão que vigora na casa), onde degustará algumas das coisas mais simpáticas da restauração ribeirinha enquanto se ri, ele e os demais comensais, da quantidade de malta que daqui por dois meses voltará a sufragar entusiasticamente o PS e as virtudes do xuxalismo democrático.
O que nos leva a outra questão: vão ver os meus caros amigos que, confirmando-se a anunciada marcação de legislativas antecipadas, a maior parte dos nossos patrícios depositará a esperança e o voto nos dois partidos que há mais de três décadas são responsáveis com razoável dose de exclusividade pelo estado a que isto chegou. Não se desse o caso de haver gente que está à rasca e sem qualquer responsabilidade pelas escolhas maioritárias e era caso para dizer que o país tem (e terá) exactamente aquilo que merece. Um case-study para a psiquiatria de massas.
A notícia vai correndo, franjas do país entusiasmam-se: Sócrates falará à Nação pelas 20h00 e algumas almas bondosas mantêm a esperança de que o homem apresente a demissão. Como é evidente, não é esse o argumento da fraca curta-metragem. Convicto de que o seu governo arde em lume brando e de que pior ficará depois de conhecido em todo o seu esplendor o PEC4 - e os que eventualmente se lhe seguissem -, o engenheiro entendeu ser este o momento politicamente mais interessante para se deixar cair e aparentemente assim será: o plano vai ao parlamento, a oposição chumba-o e a criatura, daqui por semana e meia, voltará às televisões com ar de vítima para, então sim, decretar com ar enfadonho mas grave que a oposição não o deixa governar, especialmente agora que "iria aumentar as taxas cobradas à banca" pelo que "assim não há condições para prosseguir o caminho por uma sociedade mais justa e mais solidária". Naturalmente, usará mais meia dúzia de frases feitas mas sem conteúdo, rematando que solicitará ao "Senhor Presidente da República" que "devolva a palavra ao Povo". Feita a declaração - e cá estamos para ver se eu não tenho razão… -, seguirá com o ministro Silva Pereira e uma corte de assessores para a Bica do Sapato (a maior parte dos ministros restantes seriam barrados à porta em face da reserva do Direito de Admissão que vigora na casa), onde degustará algumas das coisas mais simpáticas da restauração ribeirinha enquanto se ri, ele e os demais comensais, da quantidade de malta que daqui por dois meses voltará a sufragar entusiasticamente o PS e as virtudes do xuxalismo democrático.
O que nos leva a outra questão: vão ver os meus caros amigos que, confirmando-se a anunciada marcação de legislativas antecipadas, a maior parte dos nossos patrícios depositará a esperança e o voto nos dois partidos que há mais de três décadas são responsáveis com razoável dose de exclusividade pelo estado a que isto chegou. Não se desse o caso de haver gente que está à rasca e sem qualquer responsabilidade pelas escolhas maioritárias e era caso para dizer que o país tem (e terá) exactamente aquilo que merece. Um case-study para a psiquiatria de massas.
Sábado, 19 de Março
As breaking news não mentem, nada há por estes dias que corra bem ao nosso engenheiro: insensível às amizades dos socialistas portugueses e às necessidades da máquina de calcular do extraordinário ministro Teixeira dos Santos, a coligação militar aliada declara o ataque à Líbia e ao regime de son ami Kadhafi. Por cá, fecha-se mais uma torneira. Por lá, pelos lados dos altos comandos aliados, é toda uma nova oportunidade que se abre. Compreende-se: o complexo militar-industrial andaria fraco de negócios e o presidente Obama, o tal que iria fechar aquela coisa humanitária de Guantanamo e que a fazer fé na esquerda lusitana transformaria o Pentágono num imenso festival de Peace and Love, terá sido sensível à necessidade de transmitir alguma confiança ao sector. Afinal de contas, a Sérvia e o Iraque já vão lá longe e a indústria do humanitarismo aliado não se alimenta a manifestações do bloco… sem dinheiro não há palhaços. De modo que cá vai disto: PUM!
Como bem observou a propósito o meu amigo Bruno Oliveira Santos (que o é também do dono desta recomendável casa que me acolhe às segundas-feiras), "O Nobel da Paz está a bombardear a Líbia. Por este caminho vai ganhar outra vez o prémio."
As breaking news não mentem, nada há por estes dias que corra bem ao nosso engenheiro: insensível às amizades dos socialistas portugueses e às necessidades da máquina de calcular do extraordinário ministro Teixeira dos Santos, a coligação militar aliada declara o ataque à Líbia e ao regime de son ami Kadhafi. Por cá, fecha-se mais uma torneira. Por lá, pelos lados dos altos comandos aliados, é toda uma nova oportunidade que se abre. Compreende-se: o complexo militar-industrial andaria fraco de negócios e o presidente Obama, o tal que iria fechar aquela coisa humanitária de Guantanamo e que a fazer fé na esquerda lusitana transformaria o Pentágono num imenso festival de Peace and Love, terá sido sensível à necessidade de transmitir alguma confiança ao sector. Afinal de contas, a Sérvia e o Iraque já vão lá longe e a indústria do humanitarismo aliado não se alimenta a manifestações do bloco… sem dinheiro não há palhaços. De modo que cá vai disto: PUM!
Como bem observou a propósito o meu amigo Bruno Oliveira Santos (que o é também do dono desta recomendável casa que me acolhe às segundas-feiras), "O Nobel da Paz está a bombardear a Líbia. Por este caminho vai ganhar outra vez o prémio."
Domingo, 20 de Março
Mas se Obama é demasiado sensível, outros há que o não são: insensíveis ao facto de, à semelhança dos líbios, também termos que levar com um engenheiro há mais anos do que aconselharia o bom senso e sem que aparentemente tenhamos feito mal adicional que o justifique, as lusas televisões plantaram-se em Viseu para nos massacrarem em formato non-stop com o Congresso do CDS, um partido estimável (de quando em vez…) e onde conto alguns amigos embora ele não conte com o meu voto. A espaços, vou deitando a vista pelo conclave na esperança de uma ideia nova. Nada, zero. Para memória futura ficam as sucessivas lágrimas do dr. Portas que, ao que parece, passou o fim de semana a emocionar-se com os abraços e os elogios característicos do habitual one man show. O mesmo dr. Portas que saneava (e bem!) ministros laranjas ao tempo do Independente e que agora reduziu as suas ambições a três ou quatro pastas ministeriais (com os respectivos assessores), de tempos a tempos, a troco de fazer de muleta do agrupamento laranja - embora a encenação implique que diga o contrário nestas ocasiões de maior fervor clubístico. Diz que é isto a direita portuguesa…
Curiosamente, ao passo que vou espreitando a caixinha que mudou o mundo, ocupo o tempo em simpática sessão de divulgação do melhor que a Direita portuguesa (com letra grande e sem itálico) tem: as artes e as letras. A ajuda num trabalho de casa da minha filha mais velha - onde frequentemente sou forçado a suprir as falhas dos programas de ensino pátrio -, presta-se a uma incursão agradavelmente demorada pela Poesia, pela Portugalidade e pelos aspectos em que as duas se cruzam: percorremos algumas páginas de Rodrigo Emílio e de António Manuel Couto Viana, dois nomes grandes das Letras que felizmente tive o prazer de conhecer e que são convenientemente ignorados pela cultura de mediocridade patrocinada pelo chamado Arco Constitucional e, por maioria de razão, pelos programas oficiais que sucessivamente vão ajudando a formar jovens cada vez mais estupidificados. Ora, convenhamos, eis uma missão de Interesse Nacional que vale muitíssimo mais do que uns milhares de votos no CDS.
Mas se Obama é demasiado sensível, outros há que o não são: insensíveis ao facto de, à semelhança dos líbios, também termos que levar com um engenheiro há mais anos do que aconselharia o bom senso e sem que aparentemente tenhamos feito mal adicional que o justifique, as lusas televisões plantaram-se em Viseu para nos massacrarem em formato non-stop com o Congresso do CDS, um partido estimável (de quando em vez…) e onde conto alguns amigos embora ele não conte com o meu voto. A espaços, vou deitando a vista pelo conclave na esperança de uma ideia nova. Nada, zero. Para memória futura ficam as sucessivas lágrimas do dr. Portas que, ao que parece, passou o fim de semana a emocionar-se com os abraços e os elogios característicos do habitual one man show. O mesmo dr. Portas que saneava (e bem!) ministros laranjas ao tempo do Independente e que agora reduziu as suas ambições a três ou quatro pastas ministeriais (com os respectivos assessores), de tempos a tempos, a troco de fazer de muleta do agrupamento laranja - embora a encenação implique que diga o contrário nestas ocasiões de maior fervor clubístico. Diz que é isto a direita portuguesa…
Curiosamente, ao passo que vou espreitando a caixinha que mudou o mundo, ocupo o tempo em simpática sessão de divulgação do melhor que a Direita portuguesa (com letra grande e sem itálico) tem: as artes e as letras. A ajuda num trabalho de casa da minha filha mais velha - onde frequentemente sou forçado a suprir as falhas dos programas de ensino pátrio -, presta-se a uma incursão agradavelmente demorada pela Poesia, pela Portugalidade e pelos aspectos em que as duas se cruzam: percorremos algumas páginas de Rodrigo Emílio e de António Manuel Couto Viana, dois nomes grandes das Letras que felizmente tive o prazer de conhecer e que são convenientemente ignorados pela cultura de mediocridade patrocinada pelo chamado Arco Constitucional e, por maioria de razão, pelos programas oficiais que sucessivamente vão ajudando a formar jovens cada vez mais estupidificados. Ora, convenhamos, eis uma missão de Interesse Nacional que vale muitíssimo mais do que uns milhares de votos no CDS.
Pedro Guedes da Silva
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