segunda-feira, 11 de abril de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Quarta-feira, 6 de Abril
E eis que à oitava edição deste Expresso do Ocidente, aliás pouco tempo depois de variados ministros socialistas terem decretado e publicamente anunciado o fim da crise, Portugal "pediu ajuda externa". O eufemismo significa essencialmente três coisas: primeiro, que há não sei quantos governos de PS, PSD e CDS que andamos a gastar o que não temos e ainda por cima mal; segundo, que será cada vez mais evidente aos olhos de quem esteja disponível para ver que não passarmos hoje de um protectorado por conta de federalistas e de especuladores diversos (veja-se que bastou uma pequena manif televisiva de banqueiros à rasca a apregoar o contrário do que vinham dizendo há meses para que Sócrates não levasse sequer vinte e quatro horas a tombar lá do alto da sua fértil imaginação delirante); e terceiro, agora que já nem sequer a desvalorização do saudoso Escudo nos pode valer para efeitos de atenuar o embate -, que a brincadeira nos vai sair cara e do lombo. Ora vejam os meus caros amigos as tabelas comparativas do que foi determinado à Grécia e à Irlanda e deliciem-se a constatar que quase nada daquilo é novo para nós por via de todos os PEC's a que já tivemos direito (não confundir com o outro PEC - o pagamento especial por conta em tempos inventado pelo PSD para nos extorquir aquilo que na maior parte das vezes não chegamos sequer a facturar). E sendo assim, comecem a poupar a cada mês para as férias e para as prendinhas de Natal que os subsídios respectivos, esses, palpita-me que já eram…

Sexta-feira, 8 de Abril
Informam algumas gazetas que Bruxelas e o FMI exigirão, a troco das patacas, um "ambicioso programa de privatizações". A coisa não é fácil, na medida em que já não restam muitos anéis para alienar, mas estima-se que a TAP possa estar na primeira linha da mira adversária a par da Caixa Geral de Depósitos. Parece que os Jerónimos e a Torre de Belém ainda poderão escapar a esta primeira ofensiva…
Enquanto isso, em Matosinhos, arranca o Congresso do PS que por três dias nos procurará violentar a sanidade mental a cada vez que pressionemos o botão verde do comando televisivo. O arranque é notável, com Sócrates a debitar uma historieta por ele inventada mas que, temo, por estar mentalmente bem organizada pode colher alguns votos na hora da decisão, ao que acresce o facto do homem, como qualquer comercial com algum jeito para vender aquecimentos centrais nos quarenta graus de Havana, parecer estar realmente convencido de que as mentiras que nos conta constituem factos autênticos. O povo socialista, esse, aplaude eufórico a patranha na esperança de manter alguns boys agora que o cinto pode apertar. Ouvindo as entrevistas televisivas de corredor, aquelas com que os canais de notícias ocupam as horas mortas entre a emoção de Almeida Santos e os gritos de Ana Gomes fazendo perguntas desinteressantes aos vários Tinos de Rãs disponíveis, não sobram dúvidas: aterrámos em plena celebração da IURD. Se os tipos da notação financeira espreitarem a SIC Notícias, podem escrever que os ratings vêm novamente por aí abaixo já na segunda-feira…

Sábado, 9 de Abril
Dizia o sabedoria popular que em Portugal e face a um determinado problema, criava-se uma comissão para analisar o assunto posto que fosse essencial não resolver coisa alguma mantendo tudo na mesma. Desde há uns anos que a par das comissões temos os "Compromissos" e a capa do Expresso faz hoje questão de o lembrar. O "Compromisso-qualquer-coisa" (é relevante arranjar um bom nome, tipo Compromisso Portugal ou Compromisso com o Futuro) é normalmente um documento com dúzia e meia de banalidades, escrito por um tipo qualquer que a dado momento tem excesso de tempo livre e que depois é assinado por uma série de "notáveis" com o intuito de lhe emprestar - ao documento - "abrangência" e "credibilidade". Esporadicamente, encontram-se dois ou três sujeitos sem ligação partidária conhecida dispostos a engrossar a fileira de assinantes, de modo a não tornar evidente que todos os outros habitam, desde que se conhecem, os agrupamentos do regime. Pois bem, em tempos difíceis eis que o semanário do dr. Balsemão - também ele um "notável" - promove um documento "amplo" e "abrangente" que finalmente descobre o caminho capaz de retirar a Pátria do marasmo e do abismo. Manchete notável, não se desse o caso do "Compromisso" ser sufragado por um monte de gente que está coberta de responsabilidades pelo estado a que isto chegou. Mas há sempre um ou outro incauto que acredita que era mesmo disto que o país precisava! Topem-lhes os nomes que destas listas saem sempre dois ou três ministros e mais uma série de adjudicações.

Domingo, 10 de Abril
Sabemos hoje que os islandeses rejeitaram, em referendo, pagar ao Reino Unido e à Holanda por umas aldrabices de alguns bancos locais - e fizeram-no não só pela segunda vez mas também indiferentes às ameaças das agências de rating que prometeram durante a campanha eleitoral colocar já amanhã no nível de "lixo" as classificações do país. Ainda há gente séria e o bom povo da Islândia é disso prova! Talvez impulsionado por estes ventos do Norte, o presidente da Caixa Geral de Depósitos (o laranjinha Faria de Oliveira) declarou ser "normal que parte da ajuda externa seja canalizada para os bancos" que, como é sabido, vivem amargurados com a carga fiscal que lhes é imposta e conhecem ano após ano dificuldades extremas bem patentes nos resultados apresentados. Eu leio a notícia e dou comigo a pensar se estes agiotas são apenas insaciáveis ou se estão mesmo convencidos - provavelmente com razão - de que nós somos todos parvos…
Quem também está convencido de que somos parvos é Fernando Nobre (e o PSD por arrastamento). Não é que me espante, mas o homem que jurava representar a sociedade civil, desconfiado dos partidos, arauto dos bons princípios e da boa vontade, não esperou um segundo para aceitar o convite de Passos Coelho para encabeçar a lista laranja por Lisboa. E, em consequência, para se anunciar futuro Presidente da Assembleia da República - o tacho que a fazer fé nos pasquins lhe terá sido prometido. A luta por Lisboa anuncia-se aliás muito interessante, além de pachorrenta e arrastada: Nobre pelo PSD e Ferro Rodrigues pelo PS. O problema é estarmos nós no meio a levar com as consequências de tudo aquilo…


Pedro Guedes da Silva