segunda-feira, 2 de maio de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Segunda-feira, 25 de Abril
É feriado. Em Belém, por entre cravos cada vez mais murchos, arma-se a tenda que albergará os últimos quatro presidentes da República; nos pasquins sucedem-se entrevistas ao inimitável Otelo - agora também ele arrependido de ter dado para o peditório; as rádios ocupam a emissão com o chorrilho de canções de sempre motivando imediato zapping. Os portugueses seguem indiferentes a agenda oficial - e a paralela, aliás -, dividindo-se entre a praia, as esplanadas e as páginas da Bola em vésperas de um importante jogo de José Mourinho, Cristiano Ronaldo e companhia. Há dias em que o país tem muito mais juízo do que parece.

Quinta-feira, 28 de Abril
Na mesmíssima semana em que o ministro Teixeira dos Santos parece ter passado à clandestinidade, começa a propagar-se insistentemente no facebook um vídeo de que é protagonista o Prof. Diogo Leite de Campos, uma das cabeças pensantes da extraordinária equipa do não menos extraordinário Passos Coelho. Na peça, ao jeito da melhor stand-up comedy, aquele que muitos analistas consideram ser um putativo ministeriável laranja afirma com ar sério e aparentemente sóbrio ser extremamente difícil a qualquer português viver (em Portugal) com 5.800€ mensais - coloque-se por extenso não vá dar-se o caso do meu caro amigo ser levado a pensar que é gralha: cinco mil e oitocentos euros por mês. E remata - espantai-vos minha gente… - que a verba indicada "nem dá para o consumo"! Segundos depois, talvez porque alguém ao fundo da sala lhe tenha sinalizado que em período eleitoral conviria (man)ter algum tino, o professor reconheceu que há quem afinal de contas viva com apenas mil euros. Mas isso, afirmou-o de imediato, "é viver na miséria"… Ora, talvez o Prof. Leite de Campos não saiba mas eu tentarei dar-lhe uma ajuda: aluado por entre as reformas que (garantem-me) acumula e os afazeres académicos, desconhecerá certamente o Senhor Professor que a fazer fé nos indicadores conhecidos o ordenado médio da Nação não atinge sequer os tais miseráveis mil euros; como desconhecerá certamente que o salário mínimo cujo aumento os partidos da troika se preparam para congelar novamente não chega aos quinhentos euros que, na cabeça do Prof. Leite de Campos, sinalizariam o dobro da miséria antes declarada. E ficará talvez ainda mais espantado se eu lhe disser que muitos milhares de portugueses, tendo trabalhado uma vida inteira mas não tendo eventualmente tido a sorte de abancar à mesa do orçamento, têm que se fazer à vida com reformas na casa dos duzentos euros ou menos. Mas esses não estarão na miséria, estão algures numa nuvem que a vista dos ideólogos do dr. Passos Coelho não alcança. Nós já sabíamos que a essência da maior parte das propostas que o PSD tem lançado a ver se pegam é o disparate. Ficamos agora com a certeza de que as olhos com que a nomenklatura laranja observa o país também não se recomendam.
Mas para além do manicómio em que parecemos viver ficar mais evidente depois de ver o vídeo de que falei antes, há um elemento que assusta e que por isso mesmo merece destaque: é que os disparates do Prof. Leite de Campos - num país que consegue esta coisa notável de ver o PSD como um partido de Direita -, aproveitam essencialmente à extrema-esquerda, às mentiras compulsivas do eng.º Sócrates e às demais taras idênticas que farão de nós uns tipos cada vez mais tesos (no sentido financeiro, claro está). Que falta faz em Portugal uma Direita autêntica e com peso político, Nacional, Social e Popular…

Sábado, 30 de Abril
Aqui há dias, aproveitando a pacatez da Semana Santa, o bastonário da Ordem dos Advogados via merecimento numa espécie de greve às eleições - atitude de que me confessei adepto anos e anos a fio e com convicção de obrigatoriedade. A banhos no Algarve, não escutei Marinho Pinto com grande atenção mas ainda assim retive que o polémico jurista entendia ser útil e merecida uma abstenção brutal nas eleições de 5 de Junho. Em causa estaria, não só mas também, o que tenho vindo a escrever aqui desde há umas quantas semanas: estamos na presença de um acto eleitoral que nada decide posto que a troika, de braço dado com os três partidos da dita, tratará de assinar o real programa de Governo muito antes de se imprimirem sequer os papelinhos em que devemos alinhavar a cruz. Curiosamente, ao invés de contrariarem a tese por lhes ser adversa, os lusos partidos têm vindo diariamente a dar força à ideia insistindo na esquizofrenia reinante, inventando tricas cansativas, sem sumo e sem interesse, todos em busca do já afamado pote a cuja mesa pretendem sentar-se e servir-se à grande e à francesa. Na verdade, cada vez que os Lellos deste mundo tropeçam nas linhas do facebook fingindo uma arruaça, aumenta a disponibilidade dos portugueses para pegar nos instrumentos de limpeza e vassourar tudo a eito. Veremos na abstenção, nos brancos e nos nulos a merecida chicotada psicológica? Essa é provavelmente a grande dúvida do próximo 5 de Junho.

Domingo, 1 de Maio
Ainda em maré eleitoral, verifico pelas gazetas que pelo menos três partidos sem assento parlamentar - MEP, MRPP e MPT - vão apresentar nos próximos dois dias (e bem, digo eu) Providências Cautelares que visam impedir a negociata dos debates políticos televisivos que os cinco partidos responsáveis pelo estado a que isto chegou trataram de agendar em circuito fechado e regime de exclusividade. Aguardemos o resultado das iniciativas (sem grandes expectativas, é bom dizê-lo), que se outro mérito não têm pelo menos nos permitirão constatar até que ponto o poder judicial poderá pactuar com mais uma violação flagrante e indecente das mais elementares Leis da República.

Pedro Guedes da Silva