segunda-feira, 16 de maio de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Terça-feira, 10 de Maio
Regressam a Lisboa reflexos edificantes dos arredores de Paris: de madrugada, em Odivelas, um grupo de "jovens" (para usar a terminologia oficial dos partidos do sistema e da opinião que se publica) resolve invadir uma esquadra de polícia com a intenção de libertar um detido. No fundo, uma forma criativa e inovadora de fazer justiça pelas próprias mãos. Minutos depois, mais de cinquenta indivíduos estão devidamente concentrados e organizados para fazer frente às autoridades, forçando a reacção dos agentes e lançando o caos pelas imediações. Nada de novo, aquilo que antes apenas nos era trazido pela eurovisão varre agora - de forma mais ou menos literal - a área metropolitana de Lisboa. Teimosas que são a desmentir a terminologia oficial, as imagens televisivas deixam perceber o que está à vista de quem queira ver: a imigração desregrada a que vimos assistindo nos últimos anos, aliada a uma Lei da Nacionalidade irresponsável, cria verdadeiros barris de pólvora em volta das nossas cidades criando condições para a emergência de delinquência e de criminalidade. Já a campanha eleitoral, campanha alegre como sempre, passou totalmente ao lado: esta semana como em todas as que a antecederam, discutia "pintelhos".

Quarta-feira, 11 de Maio
Ventos do Norte: provavelmente por pressão clarividente do Partido Popular Dinamarquês (não confundir com o nosso), talvez por vontade de continuar a assegurar um nível de vida sossegado e acima da média aos seus nacionais - ou talvez mesmo porque lá tenham chegado as imagens de Odivelas!… -, a Dinamarca anunciou a sua decisão de, muito em breve, mandar Schengen àquela parte. Para já, investe 20 milhões de euros na aquisição ou melhoramento de equipamentos que permitam o eficaz controlo das suas fronteiras, colocando em marcha um regime de vigilância a que de início chama "regular" e "aleatório". Se pensarmos que há não muito tempo já franceses e italianos se tinham chateado por conta de tão brilhantes acordos e que a contestação aos ditos cresce um pouco por todo o lado (menos por cá), sempre se pode manifestar alguma esperança na possibilidade de ver ruir um dos mais estúpidos documentos que a "construção europeia" já conseguiu parir.

Quinta-feira, 12 de Maio
Seja bem-vindo a Portugal: o Tribunal da Relação do Porto mandou em paz um psiquiatra local, condenado em primeira instância a cinco anos de prisão com pena suspensa e ao pagamento de 30.000 euros. A criatura tinha violado em plena consulta uma doente que sofria de depressão e que, para mais, estava grávida. O extraordinário Acórdão entende que "o simples desrespeito pela vontade da ofendida não pode ser qualificado de violência", prosseguindo como segue: "Os factos provados não permitem concluir que, ao empurrar a ofendida contra o sofá, o arguido visou coarctar-lhe a possibilidade de resistência aos seus intentos ou se, como esse acto pretendeu apenas o arguido concretizar a cópula que, de outra forma não conseguiria, dado o avançado estado de gravidez da vítima - 34 semanas". Já um nadinha enojado, chamo a atenção dos meus caros amigos para a passagem dedicada ao sexo oral. Reza como segue: "Não se vislumbra como é possível considerar o acto de agarrar a cabeça como traduzindo o uso da violência de modo a constranger alguém à prática de um acto contra a sua vontade. A não ser que se admitisse que o mero acto de agarrar a cabeça provoca inevitável e automaticamente a abertura da boca". Algo me disse logo no segundo ano da licenciatura que melhor faria eu em pirar-me do curso de Direito onde inadvertidamente um dia me inscrevi. Vejo que me assistia a razão: que nojo…

Sábado, 14 de Maio
De Nova Iorque chega a notícia da detenção do director-geral do FMI, o socialista Dominique Strauss-Khan, por violação de uma empregada do Hotel onde estava alojado. Se arranjar forma de ver o processo transferido para a Comarca do Porto… safa-se!

Domingo, 15 de Maio
Aqui há uns dois ou três meses, no facebook, recordo-me de assistir perplexo a uma discussão em que uma série de rapaziada com mentalidade de extrema-esquerda exultava com as dificuldades crescentes de várias instituições de ensino privado. A bem da Nação e das loucuras de Trotski, de Estaline, de Louçã e de génios similares, viam com bons olhos o progressivo tombo - literal, neste caso - de uma série de crianças no ensino público (que, está bom de ver, para esta gente devia ser o único com direito a existir). Ocorre-me o episódio na sequência de um trabalho ontem publicado no Expresso em que se dizia já terem encerrado 60 escolas privadas desde o início do ano, como corolário lógico da crise em que a troika caseira nos enfiou. A par disso, era possível ler testemunhos de pais que, em desespero, se vêem forçados a não renovar as matrículas dos seus filhos por não lhes ser mais possível fazer face à pesada factura mensal que em tempos optaram por pagar para bem das crianças que trouxeram ao mundo. Lida a peça, de imediato imaginei o sorriso largo dos indivíduos de que falei no início. Talvez o tenham perdido hoje, ao lobrigar as páginas 18 e 19 do Diário de Notícias: sucede então que os sacrifícios e as dificuldades tocam a todos e isso também tem reflexos dramáticos no ensino público. Como? Através do abandono. A fazer fé no DN, são cada vez mais os miúdos de 15 anos que pura e simplesmente abandonam os estudos para assim lhes ser possível trabalhar e prestar auxílio às respectivas famílias - 9,3% dos miúdos com mais de 15 anos segundo os últimos dados oficiais. Conclusão? O impacto real da economia e estes efeitos de bola de neve dão-se muito mal com as cartilhas de extrema-esquerda e, pior ainda, com os intelectuais que, mesmo timidamente, as conseguem defender.

Pedro Guedes da Silva