segunda-feira, 6 de junho de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Domingo, 5 de Junho
O dia eleitoral amanhece calmo e com os humores de São Pedro pouco inclinados a fazer o jeito ao prof. Cavaco. Com o sol a fazer-se sentir, lado a lado com um programa de governo previamente aprovado e disposto a ignorar olimpicamente o nosso voto, cerca de quatro milhões de portugueses - 41,1% para ser mais preciso - optaram por faltar à chamada sufragando o abstencionismo com a maior vitória de sempre. Não subsiste dúvida: a credibilidade do sistema está bem e recomenda-se - não se desse o caso de serem cada vez menos os que lhe passam cartão.
Pela tarde, tempo de vésperas da proclamação de resultados, a Comissão Nacional de Eleições resolve mostrar que existe anunciando denúncias visando os líderes do MRPP e do PNR. Triste espectáculo, mas revelador da natureza do próprio sistema. Entrevistados como é da praxe após terem exercido o direito de voto, Garcia Pereira e José Pinto-Coelho não se limitaram a debitar toda a sorte de habituais banalidades que escutamos nestas ocasiões (e que aliás não mobilizam ninguém, muito pelo contrário), antes dizendo, com verdade, aquilo que de facto desejavam que pudesse sair das urnas. Reiteradamente avesso a quem fala verdade, o sistema entendeu então distribuir dois processos. Toma lá que é democrático!...
Ao bater das oito da noite, as televisões mostram o que já parecia evidente na mente das pessoas sensatas: Passos Coelho a agarrar o pote e Portas de mãos postas para o dividir, Sócrates chutado para bem longe e a extrema-esquerda em queda livre, não obstante a já tradicional vitória do PCP. Deitem-se então os olhos por vencedores e vencidos:

Os vencedores
Venceu desde logo a troika, como era previsível, amplamente sufragada com mais de dois terços dos votos, aqueles que permitirão levar a bom porto todas as alterações constitucionais que os credores externos imponham. E dentro desta, reconheça-se, vitória claríssima para a dupla Portas/Passos Coelho que, em chegando ao governo, fará lembrar a já célebre máxima de Paulo Futre dos 19+1: Passos Coelho passou a campanha a garantir um governo com 10 ministros e terá agora que usar a técnica do extraordinário extremo-esquerdo do Montijo para cair nas boas graças democratas-cristãs; 10+2, 10+3 e por aí fora... A meu ver e no que respeita aos que mais cresceram, subsiste essencialmente uma dúvida: a JSD estará disposta a manter a intenção de divulgar na internet todas as nomeações de boys para cargos públicos e de confiança política? Corolário (mais ou menos) lógico: muitos apoiantes da máquina laranja rumaram à Fontes Pereira de Melo onde apitaram efusivamente às dificuldades que aí vêm como se não houvesse amanhã. Cá estaremos para ver se daqui por um ano a vontade de festejar o que quer que seja se mantém.
De entre os mais pequenos, três destaques igualmente curtos: MRPP e o partido dos animais ultrapassam os cinquenta mil votos garantindo assim o direito à subvenção pública. Se bem empregue, é certo que o dinheiro permitirá aos dois movimentos abrir alguma janela de esperança para daqui por quatro anos. Um degrau abaixo, o PNR parece pela primeira vez querer descolar da cauda da classificação ultrapassando os 17.500 votos. Com resultados interessantes em alguns pontos dos distritos de Lisboa e Faro, a janela de esperança para 2015 também não é totalmente descartável - assim o partido saiba distinguir o essencial do acessório quando define as principais mensagens que pretende fazer passar. Ao José Pinto-Coelho daqui lhe deixo um abraço.

Os vencidos
O inenarrável Sócrates vence esta batalha em toda a linha - o que é amplamente merecido -, em luta taco-a-taco com o igualmente inqualificável Louçã. O engenheiro terá agora percebido que, com excepção das resmas de boys que foi alimentando à nossa custa, já não há português de bem que o possa ver pela frente - nem pintado! Em noite que manifestamente não lhe corria de feição, logrou partir uma porta de vidro do Altis - na sua habitual tendência para estoirar o dinheiro dos outros... - que feriu até dois jornalistas e ainda fez que respondia a algumas perguntas complicadas colocadas por duas ou três jornalistas que, aliás, não foram poupadas nas vaias pelos convictos democratas ainda presentes na sala. Um episódio que merece pequeníssima reflexão: não deixa de ser curioso que só após a derrocada do engenheiro é que lhe tenham sido colocadas questões delicadas. Por onde tem andado esta gente?… Enfim, mas mais vale tarde do que nunca. Sejam bem-vindos ao mundo real, senhores jornalistas!
Quase a par, o bloco de extrema-esquerda tomba para metade em votos, percentagem e deputados. Bem sei que ainda são em excesso mas, caramba, algum dia havia de começar. Na verdade, a coisa espanta pouco e a descida estava escrita nas estrelas tal a sucessão de erros que a rapaziada de Louçã cometeu nos últimos meses. A cereja no topo do bolo foi a tentativa nada camuflada de cavalgar a manifestação da "geração à rasca", coisa que a qualquer ser de mediana inteligência teria parecido condenado ao fracasso mas que aparentemente parecia fazer luz na cabeça dos ex-PSR. Os herdeiros do pior que a Europa produziu prometem agora "aprender com a derrota", embora se receie que não tenham abertura de espírito para interpretar os resultados. Falta-lhes escola para tanto: Mao, Hoxa, Trotski e demais pais espirituais desta gente resolveriam estas maçadas com um tiro certeiro na nuca do eleitorado desavindo…
Entre os mais pequenos, três derrotas claras a registar: o fim do MEP, projecto aparentemente pessoal de Rui Marques que em 2009 chegou até a andar ao colo da "boa imprensa"; o rebentar do balão José Manuel Coelho, agora reduzido a uma expressão vulgar; e por fim (mas não menos importante), o confirmar da lenta e longa agonia da Nova Democracia idealizada por Manuel Monteiro, agora travestida em micro-partido regional de pura caça pessoal a Alberto João Jardim. É talvez nestes casos que a eutanásia se justifica…

Resumindo, meus caros amigos: uns milhões de votos e ficou quase tudo na mesma.

Pedro Guedes da Silva