quinta-feira, 21 de julho de 2011

DA SOCIEDADE INORGÂNICA

Num dia assim, com esta luz e este céu azul da cor do mar, Lisboa até parece uma bela cidade para se viver e trabalhar; mas, olhando em volta e tendo de lidar com a gente que agora a povoa — tristes mas contentinhos, baixinhos mas empertigados, indolentes mas «com muito trabalho», todos sempre com a desculpa na ponta-da-língua para as suas incompetências —, é obrigatório concluír que esta nova arraia-miúda (do fidalgo indigente ao plebeu desconfiado, passando pelo burguês usurário) não é digna da grande cidade. Se nunca tivessem saído das suas terras, talvez fossem felizes, entre as suas comunidades naturais, na sua humildade; assim, aqui não passam de incomodativos mosquitos que temos de enxotar a toda a hora do dia. Graças a Deus, à noite desaparecem.