segunda-feira, 12 de setembro de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Segunda-feira, 5 de Setembro
Fim de férias. Há já alguns anos que passo este período à beira-Atlântico, numa zona obviamente calma, entretido com a pacatez própria dos pequenos prazeres e das rotinas despreocupadas e com o ruído poderoso e apaixonante do batimento das ondas do mar que foi em tempos português. No fundo, aproveitando o que de melhor tem Portugal para oferecer a todos os seus cada vez mais conformados pagadores de impostos. Privilégios apenas conspurcados por uma televisão que raramente se acendia mas que, ainda assim, teimou em mostrar-nos uma vez mais a falência do multiculturalismo ideológico e militante, desta feita declarada nas ruas das principais cidades inglesas por entre mortes, saques e incêndios provocados por bandos de "jovens" menos "integrados". Um banho de realidade incapaz de diminuir mais simpáticas sensações transmitidas por falésias imponentes e por extraordinários espectáculos naturais de pores-do-sol. Isto considerado e descontada a necessidade de empreender uma pequena incursão algarvia em pleno Agosto - algo que se aproxima do inferno, portanto… - e que ainda para mais me fez perder um Belenenses-Atlético ao vivo - algo que se aproxima do sacrilégio, já se vê!… -, ainda se fez uma breve incursão à magnífica (e renovada) cidade de Guimarães, berço da nacionalidade que será em 2012 Capital Europeia da Cultura e à qual sempre apetece regressar mais amiúde. Um lamento apenas, direitinho para o facto do castelo, do Paço dos Duques de Bragança e do belíssimo centro histórico terem como antecâmara uma longa paisagem de "charters" de fábricas totalmente abandonadas em edifícios que caem de podres uns atrás dos outros e que nos acompanham sensivelmente desde Santo Tirso, quilómetros suficientes para que três décadas de desenvolvimento corem de vergonha. Um cartão de visita que, queira-se ou não, faz lembrar de imediato aquela imagem de Frei Fernando Ventura que se fez célebre na SIC Notícias, a do país que é uma "barraca com antena parabólica e um submarino à porta".

Terça-feira, 6 de Setembro
Deixada para trás a inesgotável beleza das ondas e com Guimarães já arquivada na memória mais próxima, mergulho fundo na triste realidade nacional. Na televisão de que não sentia saudades e dias depois do (para aí…) centésimo aumento de impostos anunciado pelo governo em pouco mais de sessenta dias, lobrigo o bastonário da Ordem dos Médicos a reclamar nova taxa! Entende o doutor que, para salvar o Sistema Nacional de Saúde, é imperioso aplicar novo imposto sobre o fast-food (e parece que também sobre o sal que eu utilizo para deixar os queijos frescos mais a meu gosto). Já devidamente integrado na loucura colectiva institucionalizada, vou mais longe e, para além da taxa, reclamo cartazes. Passo a explicar: numa sociedade que se arroga o direito de determinar tudo aquilo que faz bem e tudo aquilo que faz mal à saúde independentemente da consciência crítica dos cidadãos e - não menos relevante - da sua vontade, é essencial que os saleiros devam conter bem visíveis os dizeres "o sal provoca elevada dependência" (letras garrafais impressas a negrito) e que as caixas de Happy Meal no McDonald's, junto com o brinquedo, tenham aposta, bem visível, a cinta que anuncia que "esta porcaria mata". De outro modo não seria justo ou, ficando-se pelo imposto, seria pelo menos insuficiente. Afinal de contas, numa sociedade igualitária os fumadores não são mais do que os outros.

Quarta-feira, 7 de Setembro
Sentem-se bem e atenção às barriga(da)s. O riso ainda não paga imposto mas, às tantas, talvez possa também matar: é que houve uma rusga nas secretas, meus caros; a sério! Juram até as gazetas que houve espiões que não só foram espiados como ainda viram apreendidos os seus computadores, smartphones, etc. Extraordinário!… Tudo isto na sequência de notícias que nos foram dando conta de que os espiões levavam a cabo investigações particulares a pedido - assuntos de cama, até, dizem alguns! -, ou ajudavam a preparar negociatas interesseiras, muito disto no quadro de guerras das sempre presentes maçonarias - a fazer fé em análises várias. Aqui não há meias palavras ou gracejos, toda esta novela das secretas é simplesmente um nojo que enxovalha o país. É nestes dias que a gente fica a pensar que se os conjurados não tivessem actuado em boa hora, já os espanhóis teriam arranjado maneira de se terem visto livres disto…

Domingo, 11 de Setembro
No mesmo dia em que a Grécia anunciou novas medidas de austeridade - vão tomando nota que isto acaba sempre por chegar cá, o corrente plano grego será pelas minhas contas o milésimo terceiro só desde o início de Agosto -, lembro-me de que nos venderam insistentemente a ideia de que seria excelente para Portugal enviar o dr. Durão Barroso lá para as Europas. Viriam "charters" de vantagens sem fim. Recordo-o, inevitavelmente, agora que observo nas notícias que o comissário alemão da energia - um homem da confiança de Barroso, portanto - se lembrou de que era imperioso daqui em diante colocar a meia-haste, nas instituições europeias e como forma de castigo, as bandeiras dos membros "incumpridores" (nelas se integrando portanto a bandeira do notável chefe de equipa do comissário em causa). Em tempos de loucura instalada, só faltava mesmo um esquema a fazer lembrar os célebres castigos das "orelhas de burro" nas escolas primárias como forma última de "acalmar os mercados". Acreditem: estamos entregues aos bichos.

Pedro Guedes da Silva