segunda-feira, 26 de setembro de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Segunda-feira, 19 de Setembro
O estado a que chegou a Nação não é famoso. Ao almoço, relata-me um conhecido recém-chegado da Grécia que a diferença entre Lisboa e Atenas, pelo menos ao nível anímico, é colossal. E, pasmem… a favor dos gregos que, ao que me é dito, não vivem na lusa depressão de se fixar constantemente na crise talvez mesmo aumentando-a. Nem de propósito, na televisão entrevistam-se jovens recém-chegados aos estudos universitários que confessam o sonho que é também antevisão do futuro que têm mais certo: a licenciatura seguida da fuga para o estrangeiro. E fossem apenas os licenciados… não sei se também acontece com o estimado leitor mas a mim surpreende-me constantemente o número de pessoas conhecidas que vão declarando a intenção de tentar a sorte lá por fora - e note-se que não me surpreende porque não tenham razão, mas apenas porque são de facto em número significativo e, o que é talvez pior, em doses crescentes. Sem pingo de soberania, governados por inaptos que pretendem ir mesmo mais longe do que aquilo que exigem os tutores, acorrentados por entre interesses económicos em circuito fechado e influências maçónicas (e outras igualmente obscuras) que quase tudo controlam e, não menos relevante, sem que se perceba a quantos anos de recessão (ou estagnação, dirão os optimistas) estamos condenados, será lícito condenar os que partem mesmo sabendo que desta vez são os mais qualificados? Ou dito de outro modo: pode um país ter um futuro decente num quadro destes?

Terça-feira, 20 de Setembro
Há coisas que demonstram a verdadeira confiança das pessoas nos governos, muito para além das sondagens e dos estudos de opinião, sinais que não deixam dúvidas. E estando a falar daquilo com que se compram os melões, diminui a margem de erro. Pois bem, conta-nos o i que um número cada vez maior de portugueses transfere as suas poupanças para o Deutsche Bank mesmo perante taxas menos atractivas, agora que o banco alemão é mera sucursal da casa mãe e já não uma sociedade de Direito português. A explicação é simples e deve-se naturalmente à maior procura de garantir a integridade dos depósitos, à nenhuma confiança no Euro e, sobretudo, à escassa confiança de que possamos manter-nos por muito tempo dentro do dito. Apesar da sua importância e de se constituir como importante barómetro da confiança dos portugueses na embrulhada em que estamos metidos, a verdade é que a comunicação social, por estes dias totalmente concentrada no alvo da Madeira, fez pouco eco da notícia. Foi pena. Eu, pelo menos, gostaria de ter visto alguém a questionar o dr. Passos Coelho ou o ministro Gaspar sobre esta pequeno comprovativo da confiança que cada vez mais patrícios realmente depositam nessas criaturas.
Por falar no alvo da Madeira, verifico que o dr. Jardim dispara mais uma vez rumo às desvergonhas continentais. Desta feita, por entre uma poncha e um naco daquele fantástico Bolo do Caco, o líder madeirense desafiou "o Estado português a pôr cá fora, desde o 25 de Abril, qual foi o montante que perdoou de dívida aos países africanos que hoje são independentes". Pergunta certeira a que os destinatários fizeram, naturalmente, orelhas moucas. Arrisco que tivesse o perdão sido nenhum e talvez hoje houvesse um menor número de portugueses a sentir maior conforto nos balcões do Deutsche Bank.

Sexta-feira, 23 de Setembro
Ficamos a saber pelo Jornal de Negócios que as testemunhas já arroladas para o julgamento da "Face Oculta" são já cerca de oitocentas, sendo que o prazo para indicar mais umas quantas ainda não terminou. Eis a Justiça lusa no seu melhor, a antecipar garantias de rapidez nas vésperas de mais esta "Casa Pia" anunciada. Será preciso não ser licenciado em Direito para ver que este tipo de longa-metragem só aproveita aos culpados?

Sábado, 24 de Setembro
O i informa que o número de maçons do Grande Oriente Lusitano duplicou em seis anos. Olhando ao estado do país, não só não estranho o crescimento como ainda deduzo que os noviços tenham todos eles abichado importantes cargos na estrutura do Estado continental e nas suas empresas. Digo continental porque me dizem que na Madeira esta malta não faz farinha. No mesmo quiosque recebo o Expresso. E desta feita não me arrependo de carregar o saco visto que os quilos de papel acompanham o DVD de Gran Torino, obra essencial de Clint Eastwood que cobre de (muito) largo a absoluta inutilidade do pasquim.

Domingo, 25 de Setembro
Em entrevista ao Jornal de Notícias, D. José Policarpo alinhava frase certeira: tal e qual ela está "ninguém sai da política com as mãos limpas". Bingo!

Pedro Guedes da Silva