ROMANCE DE UM HOMEM CULTO
Sempre desconfiei das novidades: da Literatura à Pintura, passando por outras Letras e Artes, prefiro obras sedimentadas pelo tempo. Assim sendo, acontece-me pegar num livro apenas vários anos após a sua publicação. Deixo-o andar primeiro nas mãos e nas bocas de todo o mundo para só me debruçar sobre ele depois de passado o respectivo falatório. Neste caso, talvez tenha exagerado nessa medida higiénica, pois decorreram exactamente 20 anos sobre a sua 1.ª edição em 1991! Refiro-me a Morte no Estádio de Francisco José Viegas.
Este delicioso livrinho inscreve-se na boa tradição da literatura policial, não faltando a clássica dupla de investigadores-interlocutores a fazer lembrar as obras dos melhores autores do género: Sherlock Holmes / Dr. Watson, de Conan Doyle; Poirot / Hastings, de Agatha Christie; Perry Mason / Della Street, de Gardner; Ellery / o Pai, Inspector Queen, de Queen; etc.
Assim, aqui, neste romance policial, somos conduzidos, alternadamente, por Jaime Ramos e Filipe Castanheira, dois inspectores da Policia Judiciária. A acção tem lugar, paralelamente, no Porto e em Ponta Delgada. Conhecendo eu bem essas duas cidades, senti-me a percorrer todos os locais da trama. Locais, aliás, que extravasam os referidos centros urbanos e se prolongam para refúgios em S. Miguel e em outras Ilhas dos Açores, bem como em Terras igualmente marítimas nos arredores do Porto. Todos estes sítios têm uma invulgar beleza plástica e convocam-nos para a contemplação, propiciando o libertar da vertente poética do Homem.
Por estas e outras, está-se bem de ver que o enredo policial é apenas o suporte que sustenta a narrativa. Tudo o mais — todos esses pequenos nadas que são tudo (tantas vezes me veio Pessoa à cabeça na leitura deste livro) — são os sentimentos e as relações humanas em toda a sua plenitude: alegria, tristeza, amizade, memória, saudade, prazer, e por aí adiante... O Bem e o Mal, sem, no entanto, se enredarem em simplismos maniqueístas, atravessam toda a narrativa, dando uma dimensão Moral à obra. Amor e Morte são também temas tratados na sua acepção filosófica.
E, depois, há ainda os prazeres simples da vida. O autor cultiva o gosto pela gastronomia e dá-nos, a propósito, deliciosas páginas de arte culinária, nas quais nos desperta a vontade de podermos partilhar com os personagens as iguarias que eles cozinham. Eles, porque a cozinha é coisa de homens. E, coisa de homens é igualmente o whiskey (assim mesmo, «à irlandesa»), do qual nos é feito aqui um tentador elogio, a par da encantadora apologia da Irlanda. Neste particular, conheço bem o tão falado neste livro Bushmills mas falta-me fazer uma que presumo será uma das viagens da minha vida; à Irlanda, pois claro. Não vá algum olhar mais desantento quedar-se pelo superficial, chamo a atenção para o facto de Francisco José Viegas nos transportar para uma profunda dimensão espiritual em passagens que tratam simplesmente (aparentemente) de comida, bebida e tabaco.
Livro a meu gosto não poderia deixar de ter mulheres, e este tem-nas. Duas mais duas. Digo assim para não dizer mais nada. Qualquer uma delas é um Mundo. Surgem, contudo, disfarçadas de personagens secundárias... São, porém, todas, cada uma à sua maneira, sonhadoras e sedutoras. E são elas que fazem avançar a narrativa, com todas as tramas do enredo, quais spider-women ou femme-fatales de um film-noir, de que se pressente aqui o tom e o estilo, embora o romance seja mais clássico do que moderno, e eu goste de ver no film-noir o género que inaugurou o Cinema Moderno, pelo menos nos EUA.
Por fim, há o Futebol, e só por aqui esta ficção seria uma óptima base para uma tese sociológica sobre esta actividade que começou como desporto (no sentido nobre do termo), se transformou em negócio, e é hoje uma das indústrias que mais dinheiro movimenta — às claras e às escuras — no nosso Planeta; ou seja, desceu desde o elevado espírito até à rasteira matéria. Metáfora perfeita da nossa Civilização.
Este delicioso livrinho inscreve-se na boa tradição da literatura policial, não faltando a clássica dupla de investigadores-interlocutores a fazer lembrar as obras dos melhores autores do género: Sherlock Holmes / Dr. Watson, de Conan Doyle; Poirot / Hastings, de Agatha Christie; Perry Mason / Della Street, de Gardner; Ellery / o Pai, Inspector Queen, de Queen; etc.
Assim, aqui, neste romance policial, somos conduzidos, alternadamente, por Jaime Ramos e Filipe Castanheira, dois inspectores da Policia Judiciária. A acção tem lugar, paralelamente, no Porto e em Ponta Delgada. Conhecendo eu bem essas duas cidades, senti-me a percorrer todos os locais da trama. Locais, aliás, que extravasam os referidos centros urbanos e se prolongam para refúgios em S. Miguel e em outras Ilhas dos Açores, bem como em Terras igualmente marítimas nos arredores do Porto. Todos estes sítios têm uma invulgar beleza plástica e convocam-nos para a contemplação, propiciando o libertar da vertente poética do Homem.
Por estas e outras, está-se bem de ver que o enredo policial é apenas o suporte que sustenta a narrativa. Tudo o mais — todos esses pequenos nadas que são tudo (tantas vezes me veio Pessoa à cabeça na leitura deste livro) — são os sentimentos e as relações humanas em toda a sua plenitude: alegria, tristeza, amizade, memória, saudade, prazer, e por aí adiante... O Bem e o Mal, sem, no entanto, se enredarem em simplismos maniqueístas, atravessam toda a narrativa, dando uma dimensão Moral à obra. Amor e Morte são também temas tratados na sua acepção filosófica.
E, depois, há ainda os prazeres simples da vida. O autor cultiva o gosto pela gastronomia e dá-nos, a propósito, deliciosas páginas de arte culinária, nas quais nos desperta a vontade de podermos partilhar com os personagens as iguarias que eles cozinham. Eles, porque a cozinha é coisa de homens. E, coisa de homens é igualmente o whiskey (assim mesmo, «à irlandesa»), do qual nos é feito aqui um tentador elogio, a par da encantadora apologia da Irlanda. Neste particular, conheço bem o tão falado neste livro Bushmills mas falta-me fazer uma que presumo será uma das viagens da minha vida; à Irlanda, pois claro. Não vá algum olhar mais desantento quedar-se pelo superficial, chamo a atenção para o facto de Francisco José Viegas nos transportar para uma profunda dimensão espiritual em passagens que tratam simplesmente (aparentemente) de comida, bebida e tabaco.
Livro a meu gosto não poderia deixar de ter mulheres, e este tem-nas. Duas mais duas. Digo assim para não dizer mais nada. Qualquer uma delas é um Mundo. Surgem, contudo, disfarçadas de personagens secundárias... São, porém, todas, cada uma à sua maneira, sonhadoras e sedutoras. E são elas que fazem avançar a narrativa, com todas as tramas do enredo, quais spider-women ou femme-fatales de um film-noir, de que se pressente aqui o tom e o estilo, embora o romance seja mais clássico do que moderno, e eu goste de ver no film-noir o género que inaugurou o Cinema Moderno, pelo menos nos EUA.
Por fim, há o Futebol, e só por aqui esta ficção seria uma óptima base para uma tese sociológica sobre esta actividade que começou como desporto (no sentido nobre do termo), se transformou em negócio, e é hoje uma das indústrias que mais dinheiro movimenta — às claras e às escuras — no nosso Planeta; ou seja, desceu desde o elevado espírito até à rasteira matéria. Metáfora perfeita da nossa Civilização.
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