segunda-feira, 10 de outubro de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Quarta-feira, 5 de Outubro
Muito interessante o editorial do i hoje assinado por Ana Sá Lopes sob o título "Porque é que o governo precisa dos sindicatos". Num raciocínio simples, explica-se de forma clara quem está na verdade com o sistema - incluindo o da troika -, garantindo-o de facto quando antes jurava combatê-lo. É o sistema desenhado a duas colunas. Não é que nos espanta, já se vê; ou que sequer nos seja dito algo que não conhecíamos. O que é relevante é que isso nos seja dito de forma tão límpida por alguém insuspeito de simpatias revolucionárias ou mesmo fascizantes - cruzes, credo! - como a sub-directora do jornal. Roubo um pequeno naco que atesta a ideia geral do texto: «Para a União Nacional não rebentar com as medidas da troika e o "mais além" - que vai tornar 2012 o ano mais desesperado dos últimos 20 - precisa in extremis dacooperação do PCP, do Bloco de Esquerda, dos sindicatos em geral, da CGTP e da UGT. E esta espécie de cooperação é tão decisiva para a sobrevivência do governo como a do PS. (...) Mas o combate promovido pelos partidos à esquerda e pelos sindicatos faz parte do "sistema", da oposição organizada, institucionalizada e, digamos, segura».
É pena que esta clareza de raciocínio seja chamuscada em períodos eleitorais. E melhor seria que nesses períodos em que tudo se decide fossem dadas à estampa explicações deste tipo. No limite, para que a esmagadora maioria dos portugueses vejam como acabam por sufragar sempre a mesma coisa mesmo quando julgam estar a escolher entre opostos. Mas já é um princípio, espero que nas vésperas dos próximos sufrágios a direcção do i volte a deixar claro que politicamente, com mais ou menos variantes de rosa, laranja ou encarnado, isto é tudo farinha do mesmo saco.

Quinta-feira, 6 de Outubro
O tema é obrigatório: morreu Steve Jobs. Deixa saudades, muitas, mais ainda a quem como eu labuta diariamente mais ou menos atrelado a um iPhone, um iPad, um iBook e um iMac - quatro bons colaboradores. E deixa também um legado como líder incontestado de uma mundial e muito especial comunidade de valores, que a Apple também é um bocado isso. Não sendo bastante, também deixa uma extraordinária lição de vida. Raras vezes é tão apropriado dizer-se a frase feita, a tal de que "o mundo fica mais pobre". Mas desta vez ficou mesmo - e não foi coisa pouca.

Domingo, 2 de Outubro
Alberto João Jardim limpou mais uma maioria absoluta. Do conforto do sofá, sorrio e aplaudo a mãos ambas as caretas tristonhas das muitas máfias continentais, do mainstream jornalístico, das lojas maçónicas que pelo Funchal têm a vida mais difícil, dos muitos poderes instalados que desta vez - como dizia o velho Quinito do mundo da bola - "meteu a carne toda no assador" e ainda assim logrou voltar a sair chamuscada. Mais a mais, está de parabéns o eleitorado local. Não há muitos sítios em que o bloco de extrema-esquerda seja totalmente apagado do mapa, em que o PCP seja uma absoluta insignificância e que, não sendo bastante, credite o PS com pouco mais do que 10% dos papelinhos. Até dá gosto ter uma região com tamanho discernimento. Adiante com a insularidade: sabem os meus caros amigos que o sistema eleitoral das eleições regionais madeirenses prevê um círculo eleitoral único totalmente proporcional? Pois é, não parece muito compatível com o sempre apregoado "défice democrático". Resultado: das nove forças políticas a concurso, oito conseguiram esta noite representação parlamentar na Assembleia Legislativa Regional. O que eu gostava de ter um "défice democrático" assim no sempre tão democrático continente...

Pedro Guedes da Silva