segunda-feira, 24 de outubro de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Sábado, 22 de Outubro
Muito discreta, bem distante do destaque efectivamente merecido, o Expresso dá hoje à luz uma pequena notícia que é por si só reveladora do estado a que o Estado chegou - o que, compreenda-se, ajuda a explicar a situação em que estamos e aquela que, para mal dos nossos pecados, ainda está para vir a partir do próximo dia 1 de Janeiro. Pois bem, meus amigos, o facto é este: Sérgio Sousa Pinto, socialista ilustre a quem não se conhecia outra ocupação que não fosse a causa pública - a expensas do contribuinte, portanto... -, acabou de reprovar no exame de acesso à Ordem dos Advogados onde obteve, por entre outros créditos igualmente pouco notáveis, um 9 (nove) na prova de Direito Constitucional. Ora, que tem o Estado a ver com isso? - perguntarão vosselências. Eu explico: é que Sérgio Sousa Pinto é justamente o vice-presidente da Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais no parlamento luso. Ou seja, perante a impossibilidade do presidente, ou de comum acordo com o mesmo, os trabalhos sobre Assuntos Constitucionais na Assembleia da República são dirigidos por um cavalheiro que não sabe do tema o suficiente para conseguir um dez que seja num exame básico de acesso à profissão de advogado. Não é improvável, estimo mesmo que longe disso, que não se verifique a mesma coisa em todas as outras comissões parlamentares que pagamos sem que, pelo que se percebe, daí retiremos algum proveito.

Domingo, 23 de Outubro
Falando de proveitos, o Diário de Notícias chama à sua capa dominical as pensões vitalícias para ex-políticos hoje colocados à frente de grandes empresas, a tal moralidade de que nos falam insistentemente os sucessivos governos sempre e quando nos querem pilhar mais alguns patacos. Ficamos assim a saber que pagamos a mais de (400) quatrocentos (!) cavalheiros pela sua enorme dedicação e altruísmo em favor exclusivo da Nação e do bem-comum, entre os quais se poderiam destacar Armando Vara ou Dias Loureiro por razões de manifesta justiça que o leitor por certo rapidamente alcança. Perco-me a pensar na injustiça de, a seu tempo, o falecido Alves dos Reis não ter podido abichar uma coisa destas. Ingratos tempos, aqueles.
Também hoje, o ministro da Administração Interna - bonito nome, como se a pudesse haver externa… -, bracarense de gema mas proprietário de casa em Lisboa, anunciou renunciar a um subsídio que vinha recebendo desde há meses e que visava ajudá-lo a estabelecer-se em Lisboa - é esse, pelo menos, o "espírito do legislador". Para infelicidade do ministro, a coisa veio a público há poucos dias causando justa indignação na esmagadora maioria dos lusitanos, em especial naqueles que não vivem à conta de subsídio algum. Raio de país este em que é preciso que qualquer porcaria venha a público para que apenas desse modo se cheire um mínimo de equidade e, já agora, de cumprimento dos tais sacrifícios que "tocam a todos" e que o titular da pasta do Interior tanto gosta, também ele, de justificar. Mas a coisa veio a público, que maçada...

Pedro Guedes da Silva