terça-feira, 10 de janeiro de 2012

EXPRESSO DO OCIDENTE

Sexta-feira, 6 de Janeiro
De um momento para o outro, o país parece ter descoberto a pólvora. Afinal de contas, de acordo com o que sempre dissemos e com aquilo que o sistema teimava em negar, serão já poucos os que hoje têm dúvidas sobre o poder efectivo das seitas maçónicas no aparelho de Estado, onde, de avental em riste, se abicham tachos, se sonegam liberdades, se controlam grupos económicos sinistros como a tal OnGoing, se faz do aparelho de Estado mero peão para jogadas obscuras e, de caminho, ainda se aproveitam os serviços secretos para caçar informação útil para fins particulares. Enfim, um nojo que mereceria rápida actuação do poder judicial. Acresce que as teias do polvo nunca terão sido tão evidentes como hoje, tanto mais se olharmos o parlamento onde se fazem as leis que nos enterram o presente e o futuro: segundo as gazetas garantem, "nove em cada dez deputados são liderados por maçons", o que facilmente permite concluir que nem a bancada democrata-cristã escapa ao pântano. Com efeito, lê-se no Jornal de Negócios de hoje que também Nuno Magalhães, líder parlamentar do agrupamento centrista, é membro da seita. Isto está cada vez melhor...

Sábado, 7 de Janeiro
Nem de propósito, porque tem a ver ainda que indirectamente com tudo aquilo que por estes dias ocupa os periódicos, li há dias um pequeno livro que aconselho aos meus caros amigos: "O Processo 95385 - Como Sócrates e o Poder Político destruíram uma universidade", de Rui Verde, ex-vice-Reitor da Independente onde o sr. Sócrates tratou de sacar uma licenciatura dominical. E recomendo, não porque se trate de grande obra literária mas sim porque, para além de se ler num único serão, muitos dos episódios que conta, em especial estórias soltas que pouco ou nada têm a ver com a "licenciatura" do "engenheiro", permitem ter uma ideia do pântano em que mergulhámos enquanto Nação e Comunidade de Destino. Parece mais ou menos evidente que Rui Verde quis, pelo menos a dada altura, jogar no tabuleiro que agora descreve de forma crítica. Por falta de habilidade ou por razões mais sérias e inquietantes cujas pistas nos deixa ao longo de cerca de 150 páginas, terminou o seu caminho como preso preventivo. Mas não deixa de ser verdade que, bem ou mal, nos entrega agora um volume (algo silenciado pela imprensa, digo eu…) em que é relatada muita porcaria que faz o dia-a-dia deste país, dos aparelhos partidários a alguns profissionais da comunicação, de gente da área da Justiça a um sem número de figurões que nos entram pelas notícias todos os dias vestidos de seriedade e que são, como aliás suspeitávamos, o exacto oposto. Retenho na memória, a título de exemplo, o afamado secretário de Estado que, entre outros favores menos baratos, exigiu a Rui Verde um emprego para a mulher na UnI de modo a viabilizar a candidatura deste à Câmara de Vila Franca de Xira; ou um outro personagem, ao que parece um operacional da dupla Sócrates/Vara, que era chefe de gabinete ministerial e que se ergue como personagem obscura que agora volto a ver mencionada nas últimas notícias desta tal loja Mozart; ou as resmas de políticos sem ideologia que não seja a progressão na carreira - qualquer que ela seja… -, gente que sempre fez vida dentro do PS e do PSD e cuja profissão é a cunha e o arranjinho, habilidosos que nunca trabalharam em sítio algum mas que têm poder efectivo apenas porque conhecem este ou aquele num sistema de favores antigos e sucessivamente cobrados desde o tempo das secções partidárias juvenis lá do bairro.
Tenha Rui Verde actuado bem ou mal, a verdade é que é impossível deixarmos de ler o livro e não nos determos depois, por uns minutos, a pensar se é realmente nesta miséria de Estado que queremos ver crescer os nossos filhos. E ao ler os jornais destes últimos dias não só nada nos espantará - não é que antes nos espantasse!… -, como não será raro que nos lembremos amiúde de algumas das acusações do ex-líder da Independente. Para remate, o livro deixa no ar de forma mais ou menos clara e directa que Rui Verde foi preso num arranjinho entre políticos (um dos quais, pelo menos, desta tal loja Mozart), polícias e operadores judiciais, apenas porque era ele que, num dado momento, poderia deitar por terra algumas habilidades que o "engenheiro" queria vender ao país. E foi preso, segundo conta, exactamente no dia em que combinara encontrar-se com uma jornalista do Expresso para explicar, com documentos de suporte, toda a trapalhada da socrática "licenciatura". Não faço ideia se o que se relata é verdade ou mentira; mas já faço ideia que uma jogada maquiavélica como aquela de que o livro trata e que culmina com uma prisão, num país civilizado, não só seria investigada a fundo pela imprensa como não seria abandonada por quem de Direito até que toda a verdade fosse apurada.

Segunda-feira, 9 de Janeiro
No meio da absoluta falta de vergonha em que isto está mergulhado, é sem espanto que os portugueses constatam que Eduardo Catroga, Celeste Cardona, Teixeira Pinto e mais uns quantos estejam em vias de abichar uma choruda nomeação na EDP. Não há dúvida de que um português decente - qualquer que ele seja, comunista ou fascista - tem um negro cenário de perspectivas à sua frente para além de pagar impostos crescentes para alimentar os tentáculos vários do polvo. Não pertencendo às três seitas do "arco constitucional" maila do avental, algum sucesso que possa obter profissionalmente exigirá o quádruplo do esforço despendido por qualquer uma destas nulidades que tomaram conta do país, já para não dizer que depois ainda é preciso rapidez para deslocalizar as poupanças para a Holanda ou para a Irlanda, antes que o polvo deite a mão a parte significativa do resultado desse esforço de cada um. Até quando estaremos condenados a esta pouca vergonha?

Pedro Guedes da Silva