terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

VIDAS E OBRAS DO ROMÂNTICO SÉCULO XIX


Olympia, 1863
ÉDOUARD MANET (1832 — 1883)
Óleo sobre tela, 130,5 x 190 cm

Um olhar de 19 anos — Victorine, modelo e amante do Pintor — desafia o público burguês dos salões, e das salinhas, de Paris. O corpo nu — ou despido —, descontraído mas firme, impõe-se, como centro de uma composição, só aparentemente académica.
Aqui, a novidade encontra-se, duplamente, na forma e no tema. Não é um nu clássico, de uma qualquer odalisca, que vemos. É uma mulher mundana que nos encara. Os acessórios, adereços e figurantes são escolhidos para — por detrás de um aparente naturalismo — nos desassossegarem: as jóias sobre a nua pele branca, a flor no cabelo e as flores oferecidas, os sapatos-de-quarto anunciando o abandono de alcova, e, ainda, as desconcertantes presenças de uma criada africana — num gritante alto-contraste cromático e social — e de um gato preto eriçado — contra todas as convenções da representação dos animais domésticos na História da Pintura, qual figuração diabólica.
Em três palavras: romântico, inovador e provocador. Por outras palavras: eterno.
Confesso que esta tela me veio à cabeça porque tenho andado deliciado a ver uma extraordinária série de ficção que a BBC produziu a propósito do fascinante grupo dos Pré-Rafaelitas e que a RTP 2 exibe nos serões de Segunda-Feira. Estranhas ligações feitas pelo subconsciente. Serve portanto também esta mensagem de lembrete para me obrigar a vir aqui falar sobre a referida série Desperate Romantics. E, já agora, também vou meter a vida e a obra de Charles Dickens ao barulho. Afinal, são tudo coisas com mais ou menos dois séculos de idade e que vieram para ficar.