CARTEIRA DE SENHORA
DIA 18
Tenho
de apresentar queixa no tribunal internacional dos direitos dos cronistas. A
carteira anda nitidamente a querer brincar. O destino? Querem substantivo mais
debatido em Portugal? Quantas teses de mestrado e quiçá de doutoramento…
Posso sempre dar a
volta e enganar a danada. Que tal destinos turísticos? Aposto que não voltava a
fazer a mesma brincadeira.
Temos vários destinos
ou um só? Podemos escolher por um cardápio? Existe catálogo on-line? Há saldos em épocas
pré-definidas?
Nascemos a ouvir o
sussurrar constante de tradições que nos dizem ser o destino alma gémea da
fatalidade, da sina e do fado. A tradição oblige
e conformados nos querem.
Sem velas e à deriva,
sem rumo e sem destino, parece Portugal vaguear, ultimamente. Como se fosse
nosso destino a ausência de destino. Não. Não é isso. Enganaram-nos. Deram-nos
mapas que não são os nossos, e deixámos que outros traçassem rotas que
desconhecemos. As nossas levavam a bom porto, estas são as que nos fazem
encalhar, deixando-nos sem saída.
Vendemos o nosso
destino sem apelo nem agravo. Teremos de o recuperar, nem que seja em leilão
por telefonema anónimo.
O mar sempre foi o
nosso destino, como o foi dar novos
mundos ao mundo.
Se o destino está
traçado, como dizem os fados, troquemos-lhe as voltas. Um simples lápis e um
compasso traçarão novas rotas, por cima das que o mapa teima agora em mostrar.
Serão muito nossas. E se nos enganarmos, fomos nós. Com os nossos erros podemos
bem.
Afinal que nos falta?
Para cumprir o destino e chegar a bom porto, basta uma rosa-dos-ventos na carta
de marear, um rumo, uma bússola e um astrolábio. Caravela e marinheiros já
temos. Claro que a caravela precisa ainda de ser calafetada e as velas latinas
de serem remendadas, mas os marinheiros são de boa qualidade e experientes em
condições extremas. O senão têm sido os pilotos. São pilotos de água doce, não
sabem navegar em alto mar. Venha com urgência um curso de reciclagem, lembrando
experiências de antanho. Venha um Capitão-Mor do Mar, herdeiro da sabedoria dos
capitães de outrora que motive pilotos, marinheiros e grumetes.
Se como exortava o
poeta falta cumprir Portugal, é esse
o nosso destino. É rota e fatalidade. Que esperamos?
Várias vezes tomámos
o destino nas nossas mãos. Escolhemos um rumo e abraçámo-lo. Foi assim em 1385.
Foi assim nos Descobrimentos. Foi assim em 1640.
Busquemos outros
mundos. Navegar é preciso!
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