CARTEIRA DE SENHORA
DIA 22
Com o começo do
Verão, temo que esteja aberta a silly
season também na crónica da carteira. É esse o seu mais ardente desejo, a
férrea vontade em ficar ao nível dos melhores exemplos jornalísticos, não se
tendo ainda apercebido, a coitada, que também ela é silly season o ano inteiro…
Exigiu que lhe
explicasse o que teria de fazer durante estes tempos de canícula para ficar nos
tops de audiências de crónicas em
blogues nacionais, pensou melhor, corrigiu para europeus e logo em seguida para
mundiais, ainda abriu a boca a delinear o “u” de universais, mas lembrou-se a tempo
que desejar a Via Láctea poderia soar um pouco a megalomania.
Como exemplos da silly season da mais alta qualidade,
referi-lhe os célebres questionários de Verão a “personalidades de alto
gabarito” (algumas estranhamente desconhecidas mas com certeza é falha nossa)
com as perguntas mais estapafúrdias deste mundo e do outro. Aliás, a
“estapafurdice” tem sido o grau de medida do brilhantismo desses questionários.
Pelos vistos a quantidade de perguntas estapafúrdias roça o infinito e ainda
não esgotaram o stock. Olhados pela intelligentsia com desprezo e troça, é
um facto que estes questionários têm resistido ao longo dos anos. Chego a
pensar que é cadeira de Curso com estágio obrigatório.
Sem contar com a
imprensa especializada, que faz do género a sua sobrevivência, é no desporto
que é utilizada abundantemente, mais do que em qualquer outra secção noticiosa.
A falta de notícias é o maior factor de incremento de transferências
verdadeiramente bombásticas de jogadores e treinadores.
Outro exemplo, mais
refinado e utilizado pelas melhores famílias jornalísticas, seria a
não-notícia, que permite que haja silly
season nos doze meses, sem parecer que o é. Dá muito jeito em tempos de
grande austeridade ou vida política conturbada, com tamanho de letra garrafal em
contraste com as pequenas letras atribuídas à descoberta de um caso de
corrupção.
Há ainda a silly season puramente política. A que é
praticada com afinco também todo o ano, quando se finca o pé no acessório para
que ninguém repare no essencial. Pode ser nacional e ainda europeia, com uma
classe de eurocratas altamente especializados na matéria.
Demonstrei assim à
exaustão à dona deste cantinho que já não há estação morta em que se lêem
notícias tolas. Não há uma estação pateta a quem foi dado o exclusivo. Todas
são tolas, e patetas somos nós, quando ainda lemos e nos deixamos levar.
Leonor Martins de
Carvalho
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