sexta-feira, 29 de junho de 2012

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 22

Com o começo do Verão, temo que esteja aberta a silly season também na crónica da carteira. É esse o seu mais ardente desejo, a férrea vontade em ficar ao nível dos melhores exemplos jornalísticos, não se tendo ainda apercebido, a coitada, que também ela é silly season o ano inteiro…

Exigiu que lhe explicasse o que teria de fazer durante estes tempos de canícula para ficar nos tops de audiências de crónicas em blogues nacionais, pensou melhor, corrigiu para europeus e logo em seguida para mundiais, ainda abriu a boca a delinear o “u” de universais, mas lembrou-se a tempo que desejar a Via Láctea poderia soar um pouco a megalomania.

Como exemplos da silly season da mais alta qualidade, referi-lhe os célebres questionários de Verão a “personalidades de alto gabarito” (algumas estranhamente desconhecidas mas com certeza é falha nossa) com as perguntas mais estapafúrdias deste mundo e do outro. Aliás, a “estapafurdice” tem sido o grau de medida do brilhantismo desses questionários. Pelos vistos a quantidade de perguntas estapafúrdias roça o infinito e ainda não esgotaram o stock. Olhados pela intelligentsia com desprezo e troça, é um facto que estes questionários têm resistido ao longo dos anos. Chego a pensar que é cadeira de Curso com estágio obrigatório.

Sem contar com a imprensa especializada, que faz do género a sua sobrevivência, é no desporto que é utilizada abundantemente, mais do que em qualquer outra secção noticiosa. A falta de notícias é o maior factor de incremento de transferências verdadeiramente bombásticas de jogadores e treinadores.

Outro exemplo, mais refinado e utilizado pelas melhores famílias jornalísticas, seria a não-notícia, que permite que haja silly season nos doze meses, sem parecer que o é. Dá muito jeito em tempos de grande austeridade ou vida política conturbada, com tamanho de letra garrafal em contraste com as pequenas letras atribuídas à descoberta de um caso de corrupção.

Há ainda a silly season puramente política. A que é praticada com afinco também todo o ano, quando se finca o pé no acessório para que ninguém repare no essencial. Pode ser nacional e ainda europeia, com uma classe de eurocratas altamente especializados na matéria.

Demonstrei assim à exaustão à dona deste cantinho que já não há estação morta em que se lêem notícias tolas. Não há uma estação pateta a quem foi dado o exclusivo. Todas são tolas, e patetas somos nós, quando ainda lemos e nos deixamos levar.

Leonor Martins de Carvalho