sexta-feira, 14 de setembro de 2012

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 33

A carteira voltou da época balnear completamente eléctrica da intensa vida social que usufruiu nas praias de Norte a Sul. Vamos então à sua rentrée, que me liberta finalmente do fardo de assegurar uma crónica que afinal lhe pertence.

Se Portugal já era considerado um país de povo triste e melancólico, que dizer agora, com toda a austeridade que teima chover em tempo de seca para mal dos pecados de outros? Sim, porque podem tentar culpar um povo inteiro mas os culpados sabemos todos quem são.

Como não há-de ser este povo triste e melancólico se há demasiados anos andam a aproveitar-se da sua ingenuidade e inabalável crença em mudanças a cada eleição (“Agora é que vai ser!”), naquilo a que com pompa e circunstância se atrevem a chamar democracia?

Quem votou em quem lá esteve, viu promessas por cumprir, completo desvario nos gastos, negociatas por explicar, casos com contornos suspeitos, quiçá criminosos.

Quem votou em quem lá está, lembra-se bem da campanha eleitoral com as suas certezas absolutas para gerar confiança, a demonstração inequívoca e assertiva do que tinha de ser feito sem apelo nem agravo e a promessa da resolução fácil e rápida da maldita herança.

Afinal, vemos repetir-se a história, a cada eleição.

Quando se prefere, como uns, hipotecar o futuro do país e das gerações seguintes a troco de favores monetários e afins, ou como outros, roubar nas reformas dos velhinhos em vez de posições de força perante interesses políticos e económicos, está tudo dito.

É esta a classe política. A que não merecemos. Não há ideologias, não há ideias, não há serviço, não há verdade. Apenas fingimento. Uns pequenos nadas de linguagem os distingue porque a práxis é similar.

Tanto esquerda como direita, consoante estão no poder ou na oposição, questionam se há alternativa ou afirmam-se alternativa. São? Já se viu que não. Está demonstrado à saciedade. Questionar a alternativa ou afirmar-se uma é um mero truque. De mágico amador.

Ainda têm o desplante de nos virem dizer que há escolha, que o castigo é político, que são as eleições a fornecer a alternativa. Impunidade completa. E como na verdade não há alternativas, já que o sistema só permite uns e outros em perpétuo carrossel, tornou-se uma armadilha embrulhada em papel couché de tons dourados.

Acresce a existência de personagens de acrónimo PR, ligados ou apoiados por partidos, com um papel mais que dúbio, que praticamente entram mudos e saem calados, e que estão nesse pelouro por escolha de uma minoria de portugueses mas se arrogam presidentes de todos eles, prometendo uma independência em que ninguém acredita, tanto mais porque muitos foram antes chefes de governo e de partidos.

Chegou a altura de perceberem que não é dentro do sistema que há alternativa. Há é alternativa ao sistema. Comecem por retirar o financiamento público aos partidos e por permitir candidaturas independentes. Já era alguma coisa. E que nas próximas autárquicas apareçam inúmeras candidaturas de gente idónea e independente.

Claro que para mim, essa alternativa só faz sentido com um Rei, garante de uma verdadeira estabilidade, da história, da cultura e da independência.

Leonor Martins de Carvalho