CARTEIRA DE SENHORA
DIA 33
A carteira voltou da
época balnear completamente eléctrica da intensa vida social que usufruiu nas
praias de Norte a Sul. Vamos então à sua rentrée,
que me liberta finalmente do fardo de assegurar uma crónica que afinal lhe
pertence.
Se Portugal já era
considerado um país de povo triste e melancólico, que dizer agora, com toda a
austeridade que teima chover em tempo de seca para mal dos pecados de outros?
Sim, porque podem tentar culpar um povo inteiro mas os culpados sabemos todos
quem são.
Como não há-de ser
este povo triste e melancólico se há demasiados anos andam a aproveitar-se da
sua ingenuidade e inabalável crença em mudanças a cada eleição (“Agora é que
vai ser!”), naquilo a que com pompa e circunstância se atrevem a chamar democracia?
Quem votou em quem lá
esteve, viu promessas por cumprir, completo desvario nos gastos, negociatas por
explicar, casos com contornos suspeitos, quiçá criminosos.
Quem votou em quem lá
está, lembra-se bem da campanha eleitoral com as suas certezas absolutas para
gerar confiança, a demonstração inequívoca e assertiva do que tinha de ser
feito sem apelo nem agravo e a promessa da resolução fácil e rápida da maldita
herança.
Afinal, vemos repetir-se
a história, a cada eleição.
Quando se prefere,
como uns, hipotecar o futuro do país e das gerações seguintes a troco de
favores monetários e afins, ou como outros, roubar nas reformas dos velhinhos
em vez de posições de força perante interesses políticos e económicos, está
tudo dito.
É esta a classe
política. A que não merecemos. Não há ideologias, não há ideias, não há
serviço, não há verdade. Apenas fingimento. Uns pequenos nadas de linguagem os
distingue porque a práxis é similar.
Tanto esquerda como
direita, consoante estão no poder ou na oposição, questionam se há alternativa
ou afirmam-se alternativa. São? Já se viu que não. Está demonstrado à
saciedade. Questionar a alternativa ou afirmar-se uma é um mero truque. De
mágico amador.
Ainda têm o desplante
de nos virem dizer que há escolha, que o castigo é político, que são as
eleições a fornecer a alternativa. Impunidade completa. E como na verdade não
há alternativas, já que o sistema só permite uns e outros em perpétuo
carrossel, tornou-se uma armadilha embrulhada em papel couché de tons dourados.
Acresce a existência
de personagens de acrónimo PR, ligados ou apoiados por partidos, com um papel
mais que dúbio, que praticamente entram mudos e saem calados, e que estão nesse
pelouro por escolha de uma minoria de portugueses mas se arrogam presidentes de
todos eles, prometendo uma independência em que ninguém acredita, tanto mais
porque muitos foram antes chefes de governo e de partidos.
Chegou a altura de
perceberem que não é dentro do sistema que há alternativa. Há é alternativa ao
sistema. Comecem por retirar o financiamento público aos partidos e por
permitir candidaturas independentes. Já era alguma coisa. E que nas próximas
autárquicas apareçam inúmeras candidaturas de gente idónea e independente.
Claro que para mim,
essa alternativa só faz sentido com um Rei, garante de uma verdadeira
estabilidade, da história, da cultura e da independência.
Leonor Martins de
Carvalho
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