CARTEIRA DE SENHORA
DIA 35
A carteira anda
boquiaberta com o que se tem passado em Portugal nos últimos tempos, e quando
digo boquiaberta, acreditem. Já tenho até medo dos carteiristas.
Mas voltemos atrás.
Desde a entrada na
“Europa” que, a troco da cedência de soberania, fomos inundados por lentilhas
que nos diziam necessárias para, depois de termos feito a mudança para o mesmo
prédio, levar o país de elevador até ao elevado piso dos outros.
O nível de vida
subiu, mas à custa de quê? Desbaratadas as lentilhas pela oligarquia partidária
e por alguns outros, resultando na quase destruição da agricultura, pescas,
indústria e cultura, mas com auto-estradas de encher o olho, assistimos agora,
por culpa de criminosos, à política contrária, e obrigam-nos a descer até à
quarta cave em elevador descontrolado.
Teve algumas
vantagens, não negamos, mas terão sido mais os benefícios ou os prejuízos?
Desde a entrada na
“Europa” que tantos bolsos encheu, a perda de cada vez mais soberania desembocou,
após a entrada no clube restrito da cobertura luxuosa do prédio (cópia fiel do
clube de Os Sete da Enid Blyton), no impedimento de emitir moeda, o que nos impede
de sair mais facilmente de qualquer crise.
Desde a entrada na
“Europa”, incluindo a própria entrada, que nunca nos foi perguntado nada sobre
o tema, mais parecendo arranjinhos “deles”. Claro que estava nos programas eleitorais
mas sabem lá eles se foi por essa exacta razão que as pessoas votaram? Os
programas têm dezenas de promessas e um deles até prometeu referendo do tratado
de Lisboa. Viu-se.
Há certas questões
que os governos deviam ser obrigados a referendar. É também uma questão ética.
Mas ética é palavra que deixou de fazer parte do vocabulário e da prática política.
Sofremos isso na pele.
Ninguém diz que não
nos devemos dar com os amigos europeus. Podemos ir às mesmas festas, ter os
mesmos inimigos, partilhar experiências, trocar presentes, fazer acordos de
cavalheiros…. Não temos é que dormir na mesma cama, especialmente quando prometem
a cama e o lugar destinado é por baixo da dita ou afinal à porta do quarto.
Os outros países
europeus são como alguns amigos nas redes sociais: não os conhecemos
pessoalmente, rimos das piadas, apreciamos a sabedoria, mas não queremos que se
metam nas nossas vidas.
Continuamos a querer
escolher os amigos, os verdadeiros, os que apreciam a nossa personalidade e não
nos querem transformar em gémeos.
Quando os nossos
dirigentes políticos pensam primeiro na Europa, depois nos EUA e só depois em
Portugal está tudo dito.
Leonor Martins de
Carvalho
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