CARTEIRA DE SENHORA
DIA 50
O título desta crónica
– penso já aqui ter contado – nasceu da mente brilhante do meu irmão mais novo.
A carteira emocionou-se na altura mas anda agora apreensiva. Teme pela sua
integridade física e as teorias de conspiração tiram-lhe o sono. Pelos exemplos
que a rodeiam, convenceu-se de que estava a decorrer uma campanha para a
destronar e substituir por outra palavra que irá sempre considerar menos digna.
Não hesitou, pois, esta semana.
O árduo trabalho de
dezenas e dezenas de anos a ensinar Portugal a tentar pronunciar a palavra
meteorologia sem tropeços acabou de ir pelo cano abaixo. A designação que, de
uma forma ou de outra, vinha a ser utilizada desde os anos 40 do séc. XX, foi
alterada em virtude da fusão de vários Institutos. E, mesmo existindo um
departamento que mantém o termo, é o novo nome do Instituto que se vem
aplicando aos que tão simpaticamente nos avisam das frentes frias ou do
anticiclone dos Açores, o eterno culpado da chuva nas Ilhas Britânicas.
Quando há uma fusão,
percebe-se a necessidade de um novo nome que reflicta a mesma. Ou quando um
nome ficou “queimado”, há que branquear e fingir que agora é algo completamente
diferente.
Mas esta teimosia em
mudar os nomes à viva força, em muitos casos não se entende. Até pelos gastos
em que se incorre por causa das alterações. Ele é logótipos, letreiros na
porta, software, carimbos, um sem
número de pequenas coisas de que ninguém se lembra antes, mas que se pagam.
Ora, sobretudo nos
casos em que existe história e tradição, a manutenção do nome só traz
prestígio. Os homens do marketing ainda
não perceberam. Há coisas em que não se deve mexer nunca. É deixá-las
sossegadinhas. Não vale a pena insistir, é tempo perdido.
Alguém duvida que na
boca do povo as Repartições de Finanças continuam a ser isso mesmo e não
Serviços, como agora se denominam?
A mesma situação
sucede com os Presidentes de Câmara, embora julgue que, neste caso, é de
propósito. Nada melhor para apagar alguém da memória colectiva do que dar o seu
nome à Rua Direita.
Os exemplos abundam
aqui em Lisboa e por certo noutros lugares, havendo mesmo mudanças de há
centenas de anos que nunca pegaram: Terreiro do Paço – Praça do Comércio, Campo
de Santana – Campo dos Mártires da Pátria e mais recentemente Praça do Areeiro
– Praça Sá Carneiro.
Nestes anos em que vamos
perdendo tudo, da soberania à comemoração da Restauração, temos de ter cuidado
(não é inédito!) não vá alguém lembrar-se de, numa gigantesca operação de marketing, alterar o nome da nossa Pátria…
Já é só quase o que falta.
Leonor Martins de Carvalho
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