CARTEIRA DE SENHORA
DIA 52
Fez seis anos, no dia
21 de Janeiro, este blogue do João Marchante, o blogue que decidiu adoptar-me.
Mesmo que quisesse, não podia ficar calada e não fico, claro.
Não acompanhei o
Eternas Saudades do Futuro desde o princípio, confesso. Quando apanhei o
comboio já a viagem ia a mais de meio. A partir daí, a distracção foi de tal
ordem que esqueci-me de me apear na estação e continuei viagem, textos fora,
imagens fora, vídeos fora, saboreando todas essas paisagens que o correr da
pena e da mente do João nos oferecem…
Lembro-me de no meu
blogue pessoal brincar com as estatísticas que o João apresentava, para
comparar a formiga com o elefante (acho que usei planetas, na altura). Fascinaram-me
as histórias do cinema, os aforismos, a estética, algum, se não todo, o pensamento
coincidente… Admirei especialmente a coragem, a determinação e a verticalidade
de quem caminha contracorrente e não é politicamente correcto.
Mal imaginávamos ambos
o resto de uma história em que ninguém vai acreditar se contada. Um dos maiores
responsáveis chama-se Mark Zuckerberg e podemos mover-lhe um processo se a
coisa correr mal.
E é assim que, quase
uma semana depois de o Eternas Saudades do Futuro ter idade para entrar para a
escola, celebra esta crónica um ano. Ou seja, de fraldas, a balbuciar palavras
que ainda não consegue dominar e olhando com veneração para os mais velhos.
Cinquenta e duas
crónicas contando com esta (a isto chama-se fazer batota). Cinquenta e dois
temas que tentei fossem variados.
Os leitores dirão se cumpri
o que previa no dia 1: “Escreverei com a maré dos dias, uns melhores que
outros, alguns de raiva, outros de puro divertimento.”
Claro que a
indisciplina não arredou pé. Com uma semana inteira entre crónicas, a minha
costela preguiçosa, estranhamente a mais activa e dominadora, não me dá tréguas
e obriga-me a deixar tudo para o último dia (prova viva de que sou portuguesa)
contribuindo decisivamente para atabalhoamentos, fraco vocabulário e tudo o
mais de que sois testemunhas.
Hoje não quero mesmo nada
escrever qualquer coisa que se assemelhe ao discurso de um político em dia de
inauguração ou de despedida. A minha relação com essa carreira profissional não
é das melhores, como certamente já se aperceberam. Por isso peço desculpa se
não conseguir o intento.
À casa que nos concede
hospedagem - a mim e à carteira – na pessoa do seu simpático proprietário,
agradeço a confiança com que instintivamente me escolheu e apadrinhou, a
paciência e o estímulo com que sempre fui acarinhada.
Aos que lêem esta
crónica, bem hajam pela paciência, o olhar compreensivo, as palavras encorajantes,
a mão protectora e o coração grande. Com ternura agradeço também a quem me
ampara desde sempre nas angústias das quintas.
Possa a Carteira de
Senhora sobreviver mais um ano aos atropelos infligidos por quem tem boa
intenção e pouca prática.
Leonor Martins de Carvalho
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