sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 52

Fez seis anos, no dia 21 de Janeiro, este blogue do João Marchante, o blogue que decidiu adoptar-me. Mesmo que quisesse, não podia ficar calada e não fico, claro.

Não acompanhei o Eternas Saudades do Futuro desde o princípio, confesso. Quando apanhei o comboio já a viagem ia a mais de meio. A partir daí, a distracção foi de tal ordem que esqueci-me de me apear na estação e continuei viagem, textos fora, imagens fora, vídeos fora, saboreando todas essas paisagens que o correr da pena e da mente do João nos oferecem…

Lembro-me de no meu blogue pessoal brincar com as estatísticas que o João apresentava, para comparar a formiga com o elefante (acho que usei planetas, na altura). Fascinaram-me as histórias do cinema, os aforismos, a estética, algum, se não todo, o pensamento coincidente… Admirei especialmente a coragem, a determinação e a verticalidade de quem caminha contracorrente e não é politicamente correcto.

Mal imaginávamos ambos o resto de uma história em que ninguém vai acreditar se contada. Um dos maiores responsáveis chama-se Mark Zuckerberg e podemos mover-lhe um processo se a coisa correr mal.

E é assim que, quase uma semana depois de o Eternas Saudades do Futuro ter idade para entrar para a escola, celebra esta crónica um ano. Ou seja, de fraldas, a balbuciar palavras que ainda não consegue dominar e olhando com veneração para os mais velhos.

Cinquenta e duas crónicas contando com esta (a isto chama-se fazer batota). Cinquenta e dois temas que tentei fossem variados.

Os leitores dirão se cumpri o que previa no dia 1: “Escreverei com a maré dos dias, uns melhores que outros, alguns de raiva, outros de puro divertimento.”

Claro que a indisciplina não arredou pé. Com uma semana inteira entre crónicas, a minha costela preguiçosa, estranhamente a mais activa e dominadora, não me dá tréguas e obriga-me a deixar tudo para o último dia (prova viva de que sou portuguesa) contribuindo decisivamente para atabalhoamentos, fraco vocabulário e tudo o mais de que sois testemunhas.

Hoje não quero mesmo nada escrever qualquer coisa que se assemelhe ao discurso de um político em dia de inauguração ou de despedida. A minha relação com essa carreira profissional não é das melhores, como certamente já se aperceberam. Por isso peço desculpa se não conseguir o intento.

À casa que nos concede hospedagem - a mim e à carteira – na pessoa do seu simpático proprietário, agradeço a confiança com que instintivamente me escolheu e apadrinhou, a paciência e o estímulo com que sempre fui acarinhada.

Aos que lêem esta crónica, bem hajam pela paciência, o olhar compreensivo, as palavras encorajantes, a mão protectora e o coração grande. Com ternura agradeço também a quem me ampara desde sempre nas angústias das quintas.

Possa a Carteira de Senhora sobreviver mais um ano aos atropelos infligidos por quem tem boa intenção e pouca prática.

Leonor Martins de Carvalho