CADERNOS INTERATLÂNTICOS (3)
Os estado-unidenses da América recordaram recentemente os quarenta anos da
legalização do aborto – a famigerada Roe
v. Wade, com o saldo macabro de 55 milhões de vidas ceifadas, todas elas
inocentes e indefesas. Nada mal para
esse farol da civilização cujo modelo deve ser imposto – à bomba se necessário
– à direita e à esquerda por esse globo fora. Aqueles que me conhecem sabem que
adoro os animais – irracionais, claro
está, especialmente os cavalos e os cães. Mas o respeito que tenho por estes
não me impede de caracterizar como degenerada uma sociedade na qual maltratar
um bicho é crime que se expia na cadeia, enquanto assassinar um nascituro é
exercício de liberdade e direito constitucional.
Saltamos de volta o Atlântico e verificamos que na antiga terra dos anglos o
emparelhamento de invertidos é oficializado com devida pompa e circunstância. E
tudo pela mão do tory Cameron, um
tipo “conservador”. Cabe aqui a observação:
para inglês ver, of course. Com conservadores deste quilate, quem é
que necessita de “progressistas”? No, Prime
Minister, ao contrário do que Vossa Excelência afirmou, o que acaba de ser
legalizado não vai fazer a sociedade “mais forte”. Em franca dissolução graças
à demolição da autoridade, da moral e da família – e nem falemos do multi-culturalismo
suicida! – a vida social vai receber o golpe de misericórdia com esse atentado
à Ordem Natural, esta sim, a verdadeira base da vida individual e colectiva.
E ainda nos querem vender a ideia de que tudo isso é progresso de causar
inveja. Só que o progresso dos progressitas, tal como escreveu o grande Nicolás
Gómez Dávila, é a preparação da catástrofe.
Inquilino incómodo e incomodado do mundo moderno, é na História que
encontro o meu refúgio. É da Mestra da Vida que retiro o bálsamo para os
ferimentos causados pela dissolução nacional programada a que estamos
submetidos. É ali, a beber nas fontes de um Portugal grande, soberano e
português, que vou buscar força e inspiração. Deixo-vos aqui um documento que
constitui um caso único nos anais da Colonização. Como se sabe, a chamada Banda
Oriental do rio Uruguai, a Província Cisplatina – ou, simplesmente, o Uruguai –
foi terra portuguesa durante algum tempo. Na sequência da secessão brasileira e
das pressões inglesas as forças
portuguesas leais à Coroa são levadas a abandonar o território. Pois ao deixar Montevideu
o Comandante português, D. Álvaro da Costa de Sousa de Macedo, recebe a
seguinte comunicação do Ayuntamiento de
Montevideo (mantém-se a grafia original):
Ill.mo y Exmo Sor – llegado el
momento de embarcarse de regreso para Europa la Division de Voluntarios
del-Rey, no sabe el Cabildo de Montevideo decidir si podia ella gloriarse mas
en el pezar que demuestra el Pueblo por su ausencia, que en los continuados
triunfos que le han dado su valor y disciplina à la faz de toda Europa en la
guerra Peninsular, y en la que se vió forzada à emprender para arrancar à esta
Provincia del Poder de la anarquia que la deboraba en el año de 1816. V. E. Se empeña en manifestar su gratitud y
de la Division hácia estos habitantes en su muy honorable comunicacion de ayer,
y ciertamente que solo un êxceso de cortesania parece que podria haber hecho
olvidar à V.E. de las virtudes de estas tropas, para moverlo a ponderar una
hospitalidad y confianza que jamas podria ser justamente digna de estos
guerreros. Mas no el cabildo de Montevideo, no el vecindario, no todo este
Estado, sino la fama, y la mas tierna memoria de estas tropas serán las que
hagan su mayor elogio, para que à los pies del trono de S. M. El Rey Sor Juan
6.º, no pueda llevarse mejor recomendacion que haber tenido la honra de
pertenecer a la Division de Voluntarios Reales del-Rey. En este concepto, parta V.E. conduciendo esta
Division à recoger los laureles que ha ganado: parta V.E. y ellos acompañados
de nuestra mas grata memoria: y sea la mejor demostración de la felicidad que les desea este Pueblo las
lagrimas de ternura que generalmente vierte al verse separado de tan honrados
Portugueses, cuyas virtudes lo habian obligado à darles los dulces titulos de
compañeros y hermanos. Dios guarde à
V.E. m. a. Sala Capitular de Montevideo
febrero 27 de 1824 – JC – J de A.S. – S. S. De la U. – J. G. – R. U. – E. G-
Illmo y Exmo Sor Brigadier D. Alvaro da Costa de Sousa de Macedo Comandante en
Gefe de la Division de V. R. Del Rey.
Qual outro povo, além do português, pode ostentar tal pergaminho?
Até para a semana.
Marcos Pinho de Escobar
<< Home