segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (3)


Os estado-unidenses da América recordaram recentemente os quarenta anos da legalização do aborto – a famigerada Roe v. Wade, com o saldo macabro de 55 milhões de vidas ceifadas, todas elas inocentes e indefesas.  Nada mal para esse farol da civilização cujo modelo deve ser imposto – à bomba se necessário – à direita e à esquerda por esse globo fora. Aqueles que me conhecem sabem que adoro os animais –  irracionais, claro está, especialmente os cavalos e os cães. Mas o respeito que tenho por estes não me impede de caracterizar como degenerada uma sociedade na qual maltratar um bicho é crime que se expia na cadeia, enquanto assassinar um nascituro é exercício de liberdade e direito constitucional.
 
Saltamos de volta o Atlântico e verificamos que na antiga terra dos anglos o emparelhamento de invertidos é oficializado com devida pompa e circunstância. E tudo pela mão do tory Cameron, um tipo “conservador”. Cabe aqui a observação:  para inglês ver, of course.  Com conservadores deste quilate, quem é que necessita de “progressistas”? No, Prime Minister, ao contrário do que Vossa Excelência afirmou, o que acaba de ser legalizado não vai fazer a sociedade “mais forte”. Em franca dissolução graças à demolição da autoridade, da moral e da família – e nem falemos do multi-culturalismo suicida! – a vida social vai receber o golpe de misericórdia com esse atentado à Ordem Natural, esta sim, a verdadeira base da vida individual e colectiva.
 
E ainda nos querem vender a ideia de que tudo isso é progresso de causar inveja. Só que o progresso dos progressitas, tal como escreveu o grande Nicolás Gómez Dávila, é a preparação da catástrofe.
 
Inquilino incómodo e incomodado do mundo moderno, é na História que encontro o meu refúgio. É da Mestra da Vida que retiro o bálsamo para os ferimentos causados pela dissolução nacional programada a que estamos submetidos. É ali, a beber nas fontes de um Portugal grande, soberano e português, que vou buscar força e inspiração. Deixo-vos aqui um documento que constitui um caso único nos anais da Colonização. Como se sabe, a chamada Banda Oriental do rio Uruguai, a Província Cisplatina – ou, simplesmente, o Uruguai – foi terra portuguesa durante algum tempo. Na sequência da secessão brasileira e das pressões  inglesas as forças portuguesas leais à Coroa são levadas a abandonar o território. Pois ao deixar Montevideu o Comandante português, D. Álvaro da Costa de Sousa de Macedo, recebe a seguinte comunicação do Ayuntamiento de Montevideo (mantém-se a grafia original):
 
Ill.mo y Exmo Sor – llegado el momento de embarcarse de regreso para Europa la Division de Voluntarios del-Rey, no sabe el Cabildo de Montevideo decidir si podia ella gloriarse mas en el pezar que demuestra el Pueblo por su ausencia, que en los continuados triunfos que le han dado su valor y disciplina à la faz de toda Europa en la guerra Peninsular, y en la que se vió forzada à emprender para arrancar à esta Provincia del Poder de la anarquia que la deboraba en el año de 1816.  V. E. Se empeña en manifestar su gratitud y de la Division hácia estos habitantes en su muy honorable comunicacion de ayer, y ciertamente que solo un êxceso de cortesania parece que podria haber hecho olvidar à V.E. de las virtudes de estas tropas, para moverlo a ponderar una hospitalidad y confianza que jamas podria ser justamente digna de estos guerreros. Mas no el cabildo de Montevideo, no el vecindario, no todo este Estado, sino la fama, y la mas tierna memoria de estas tropas serán las que hagan su mayor elogio, para que à los pies del trono de S. M. El Rey Sor Juan 6.º, no pueda llevarse mejor recomendacion que haber tenido la honra de pertenecer a la Division de Voluntarios Reales del-Rey.  En este concepto, parta V.E. conduciendo esta Division à recoger los laureles que ha ganado: parta V.E. y ellos acompañados de nuestra mas grata memoria: y sea la mejor demostración de la felicidad que les desea este Pueblo las lagrimas de ternura que generalmente vierte al verse separado de tan honrados Portugueses, cuyas virtudes lo habian obligado à darles los dulces titulos de compañeros y hermanos.  Dios guarde à V.E. m. a.  Sala Capitular de Montevideo febrero 27 de 1824 – JC – J de A.S. – S. S. De la U. – J. G. – R. U. – E. G- Illmo y Exmo Sor Brigadier D. Alvaro da Costa de Sousa de Macedo Comandante en Gefe de la Division de V. R. Del Rey.
 
Qual outro povo, além do português, pode ostentar tal pergaminho? 
 
Até para a semana.
 
Marcos Pinho de Escobar