segunda-feira, 18 de março de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (8)


Em 1973 foi publicado em Londres um livro intitulado “The Portuguese Answer”, de autoria do General Kaúlza de Arriaga.  O objectivo do texto foi contrapor a verdade dos factos acerca do esforço de autodefesa levado a cabo na Província Portuguesa de Moçambique à enxurrada de mentiras produzidas pelos especialistas planetários da desinformação.  Nesta tarefa de esclarecimento da opinião pública anglófona contou o ilustre militar com a colaboração de Iain Sproat, então membro da Câmara dos Comuns, quem prefaciou a obra, na sequência de uma demorada excursão pelo nosso Ultramar, especialmente por Moçambique. Antes de 1970 Sproat admirava Eduardo Mondlane, simpatizava com a FRELIMO e chegou a visitar os guerrilheiros em Daar-es-Salaam. Pediu permissão para visitar Moçambique e esta lhe foi prontamente concedida e sem condições. Percorreu milhares de quilómetros, foi aonde desejou e falou à vontade com quem quis.  Regressou convencido da justiça da solução portuguesa  e amigo de Portugal.  E assim permaneceu, pelo menos, até 1974...

Nos anos 90, estando eu a viver em Londres, saí atrás do livro. Contactei alfarrabistas, visitei bibliotecas, contratei um serviço internacional de busca, tentei encontrar o editor, procurei a gráfica onde havia sido impresso... baldado esforço. Misteriosamente desaparecido dos escaparates das livrarias londrinas a seguir ao 25A – consta que as autoridades abrileiras, empenhadíssimas na restauração da liberdade e da democracia, ordenaram a aquisição e destruição de todos os exemplares disponíveis – “The Portuguese Answer” desmonta o embuste propagandístico preparado pelos imperialismos que nos queriam expulsar de África, e descreve, com luxo de detalhe, o épico esforço de defesa de Moçambique e das suas gentes, contrastando a dignidade da vida diária no território com o pavoroso espectáculo de violência, destruição, fome e miséria pós-74 – obra pela qual a cáfila abrilina, em sintonia com a pérfida ONU, pode limpar as patas à parede.

Consegui, sabe-se lá como, por intermédio de um contacto na redacção do Hansard (a publicação oficial dos trabalhos e debates na Câmara) o telefone de uma assistente de Iain Sproat, então deputado por Harwich e Ministro do Desporto de John Major. Escusado será dizer que nunca consegui ter Mr. Sproat na outra ponta da linha telefónica. Após grande insistência e largas explicações obtive da secretária a promessa de que durante o weekend, o Ministro, que “vagamente recordava a obra”, procuraria “algures na biblioteca da casa de campo”, o único exemplar que “julgava” ali estar.  Quando telefonei a rapariga já tinha a resposta na ponta da língua:  “O Ministro não encontrou o livro, lamenta não poder ajudá-lo e deseja-lhe boa sorte na sua procura – Adeus.” Politicamente correcto oblige... Já ia a desistir quando resolvi, numa última tentativa, dar um salto à British Library. Pois ali, escondido entre uns bons treze ou quatorze milhões de livros, esquecido pelos revolucionários e seus amigotes locais, encontrava-se o pequeno volume, novinho, como que acabado de sair do prelo.

Em Lisboa conversei com o General, que encarou com simpatia a minha ideia de uma edição portuguesa, com uma nova e bem nutrida introdução. Com grande satisfação recebi do Massu português, a incumbência de verter em português o inglês original.  Infelizmente o destino não permitiu que a “nossa” empresa fosse adiante.

Quem sabe se um dia destes, antes do dobre de finados nacional, não vemos para aí, em português como Deus manda, “A Resposta Portuguesa”?  Para já prometo-vos, num próximo “Caderno”, o prefácio da pena do antigo Member of Parliament.

Restaurar a verdade histórica é o mínimo que podemos fazer.

Até para a semana.

Marcos Pinho de Escobar