CADERNOS INTERATLÂNTICOS (8)
Em 1973 foi publicado em Londres
um livro intitulado “The Portuguese Answer”, de autoria do General Kaúlza de
Arriaga. O objectivo do texto foi
contrapor a verdade dos factos acerca do esforço de autodefesa levado a cabo na
Província Portuguesa de Moçambique à enxurrada de mentiras produzidas pelos
especialistas planetários da desinformação.
Nesta tarefa de esclarecimento da opinião pública anglófona contou o
ilustre militar com a colaboração de Iain Sproat, então membro da Câmara dos
Comuns, quem prefaciou a obra, na sequência de uma demorada excursão pelo nosso
Ultramar, especialmente por Moçambique. Antes de 1970 Sproat admirava Eduardo
Mondlane, simpatizava com a FRELIMO e chegou a visitar os guerrilheiros em
Daar-es-Salaam. Pediu permissão para visitar Moçambique e esta lhe foi
prontamente concedida e sem condições. Percorreu milhares de quilómetros, foi
aonde desejou e falou à vontade com quem quis.
Regressou convencido da justiça da solução portuguesa e amigo de Portugal. E assim permaneceu, pelo menos, até 1974...
Nos anos 90, estando eu a viver em Londres, saí atrás do livro. Contactei alfarrabistas, visitei bibliotecas, contratei um serviço internacional de busca, tentei encontrar o editor, procurei a gráfica onde havia sido impresso... baldado esforço. Misteriosamente desaparecido dos escaparates das livrarias londrinas a seguir ao 25A – consta que as autoridades abrileiras, empenhadíssimas na restauração da liberdade e da democracia, ordenaram a aquisição e destruição de todos os exemplares disponíveis – “The Portuguese Answer” desmonta o embuste propagandístico preparado pelos imperialismos que nos queriam expulsar de África, e descreve, com luxo de detalhe, o épico esforço de defesa de Moçambique e das suas gentes, contrastando a dignidade da vida diária no território com o pavoroso espectáculo de violência, destruição, fome e miséria pós-74 – obra pela qual a cáfila abrilina, em sintonia com a pérfida ONU, pode limpar as patas à parede.
Consegui, sabe-se lá como, por intermédio de um contacto na redacção do Hansard (a publicação oficial dos trabalhos e debates na Câmara) o telefone de uma assistente de Iain Sproat, então deputado por Harwich e Ministro do Desporto de John Major. Escusado será dizer que nunca consegui ter Mr. Sproat na outra ponta da linha telefónica. Após grande insistência e largas explicações obtive da secretária a promessa de que durante o weekend, o Ministro, que “vagamente recordava a obra”, procuraria “algures na biblioteca da casa de campo”, o único exemplar que “julgava” ali estar. Quando telefonei a rapariga já tinha a resposta na ponta da língua: “O Ministro não encontrou o livro, lamenta não poder ajudá-lo e deseja-lhe boa sorte na sua procura – Adeus.” Politicamente correcto oblige... Já ia a desistir quando resolvi, numa última tentativa, dar um salto à British Library. Pois ali, escondido entre uns bons treze ou quatorze milhões de livros, esquecido pelos revolucionários e seus amigotes locais, encontrava-se o pequeno volume, novinho, como que acabado de sair do prelo.
Em Lisboa conversei com o General, que encarou com simpatia a minha ideia de uma edição portuguesa, com uma nova e bem nutrida introdução. Com grande satisfação recebi do Massu português, a incumbência de verter em português o inglês original. Infelizmente o destino não permitiu que a “nossa” empresa fosse adiante.
Quem sabe se um dia destes, antes do dobre de finados nacional, não vemos para aí, em português como Deus manda, “A Resposta Portuguesa”? Para já prometo-vos, num próximo “Caderno”, o prefácio da pena do antigo Member of Parliament.
Restaurar a verdade histórica é o mínimo que podemos fazer.
Até para a semana.
Marcos Pinho de Escobar
Nos anos 90, estando eu a viver em Londres, saí atrás do livro. Contactei alfarrabistas, visitei bibliotecas, contratei um serviço internacional de busca, tentei encontrar o editor, procurei a gráfica onde havia sido impresso... baldado esforço. Misteriosamente desaparecido dos escaparates das livrarias londrinas a seguir ao 25A – consta que as autoridades abrileiras, empenhadíssimas na restauração da liberdade e da democracia, ordenaram a aquisição e destruição de todos os exemplares disponíveis – “The Portuguese Answer” desmonta o embuste propagandístico preparado pelos imperialismos que nos queriam expulsar de África, e descreve, com luxo de detalhe, o épico esforço de defesa de Moçambique e das suas gentes, contrastando a dignidade da vida diária no território com o pavoroso espectáculo de violência, destruição, fome e miséria pós-74 – obra pela qual a cáfila abrilina, em sintonia com a pérfida ONU, pode limpar as patas à parede.
Consegui, sabe-se lá como, por intermédio de um contacto na redacção do Hansard (a publicação oficial dos trabalhos e debates na Câmara) o telefone de uma assistente de Iain Sproat, então deputado por Harwich e Ministro do Desporto de John Major. Escusado será dizer que nunca consegui ter Mr. Sproat na outra ponta da linha telefónica. Após grande insistência e largas explicações obtive da secretária a promessa de que durante o weekend, o Ministro, que “vagamente recordava a obra”, procuraria “algures na biblioteca da casa de campo”, o único exemplar que “julgava” ali estar. Quando telefonei a rapariga já tinha a resposta na ponta da língua: “O Ministro não encontrou o livro, lamenta não poder ajudá-lo e deseja-lhe boa sorte na sua procura – Adeus.” Politicamente correcto oblige... Já ia a desistir quando resolvi, numa última tentativa, dar um salto à British Library. Pois ali, escondido entre uns bons treze ou quatorze milhões de livros, esquecido pelos revolucionários e seus amigotes locais, encontrava-se o pequeno volume, novinho, como que acabado de sair do prelo.
Em Lisboa conversei com o General, que encarou com simpatia a minha ideia de uma edição portuguesa, com uma nova e bem nutrida introdução. Com grande satisfação recebi do Massu português, a incumbência de verter em português o inglês original. Infelizmente o destino não permitiu que a “nossa” empresa fosse adiante.
Quem sabe se um dia destes, antes do dobre de finados nacional, não vemos para aí, em português como Deus manda, “A Resposta Portuguesa”? Para já prometo-vos, num próximo “Caderno”, o prefácio da pena do antigo Member of Parliament.
Restaurar a verdade histórica é o mínimo que podemos fazer.
Até para a semana.
Marcos Pinho de Escobar
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