sexta-feira, 1 de março de 2013

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 57

A carteira que, como calculam, não tem qualquer espécie de dote culinário, teimou em querer aprender uma receita tipicamente portuguesa. Veio bater à porta errada, mas sempre se arranja qualquer coisa e faço-lhe a vontade:

Receita da desgraça

Ingredientes:

-          Presidentes da república, primeiros-ministros, ministros e deputados: quantidade à escolha (a qualidade pouco difere)

-          Licenciaturas por equivalência e dominicais: as que descobrir

-          Megalomanias: bastantes

-          Complexos: muitos

-          Casos vergonhosos: numerosos

-          Negócios obscuros, troca de favores e corrupção: abundantes

-          Promessas – Mentiras: várias dúzias

-          Temperos: Ambição, ganância, falta de vergonha e de palavra

-          De: um

-          Euro: suficiente para agrilhoar

Preparação:

Numa tigela bem funda, misture fartas quantidades de presidentes da república, primeiros-ministros, ministros e deputados (atenção que há uns que costumam fugir) e bata firmemente. Ponha pitadas de licenciaturas por equivalência e dominicais.

Numa taça à parte misture as megalomanias com os complexos, dois ingredientes que se fundem na perfeição rapidamente. Verta esta mistura a pouco e pouco na massa anterior.

Junte uma miscelânea de casos vergonhosos, mas incluindo sempre BPN, BPP, PPPs e fundações, mais negócios obscuros a gosto, troca de favores e corrupção com fartura e continue batendo, sem parar. Se gostar, use compadrios.

Entretanto, separe as mentiras das promessas e bata estas últimas em castelo bem firme (não tenha medo da força que aplicar).

Junte as mentiras à massa, misture bem e quando a massa estiver consistente, incorpore as promessas suavemente mas de modo a ficarem bem ocultas.

Use os temperos indicados acima da seguinte forma: ambição sem fim, ganância a rodos, falta de vergonha e de palavra em abundância.

Unte à força com euro uma forma de tipo Europa que tenha um buraco bem grande. Lembre-se que a forma Europa tem a característica de roubar soberania a qualquer receita.

Leve a forno bem quente o tempo que lhe apetecer. Retire e deixe esfriar. Guarde no frigorífico e desenforme a cada quatro anos.

Enfeite com um de bem definido, na certeza de que na mesa passará a da, e sirva.

Sabe a pouca vergonhice oligárquica, impunidade, austeridade, sobrecarga fiscal, desemprego e pobreza.

Tem sido esta a receita portuguesa mais típica. Vamos alterá-la?

Leonor Martins de Carvalho