CARTEIRA DE SENHORA
DIA 57
A carteira que, como
calculam, não tem qualquer espécie de dote culinário, teimou em querer aprender
uma receita tipicamente portuguesa. Veio bater à porta errada, mas sempre se
arranja qualquer coisa e faço-lhe a vontade:
Receita da desgraça
Ingredientes:
-
Presidentes
da república, primeiros-ministros, ministros e deputados: quantidade à escolha
(a qualidade pouco difere)
-
Licenciaturas
por equivalência e dominicais: as que descobrir
-
Megalomanias:
bastantes
-
Complexos:
muitos
-
Casos
vergonhosos: numerosos
-
Negócios
obscuros, troca de favores e corrupção: abundantes
-
Promessas
– Mentiras: várias dúzias
-
Temperos:
Ambição, ganância, falta de vergonha e de palavra
-
De: um
-
Euro:
suficiente para agrilhoar
Preparação:
Numa tigela bem
funda, misture fartas quantidades de presidentes da república,
primeiros-ministros, ministros e deputados (atenção que há uns que costumam
fugir) e bata firmemente. Ponha pitadas de licenciaturas por equivalência e
dominicais.
Numa taça à parte
misture as megalomanias com os complexos, dois ingredientes que se fundem na
perfeição rapidamente. Verta esta mistura a pouco e pouco na massa anterior.
Junte uma miscelânea
de casos vergonhosos, mas incluindo sempre BPN, BPP, PPPs e fundações, mais negócios
obscuros a gosto, troca de favores e corrupção com fartura e continue batendo,
sem parar. Se gostar, use compadrios.
Entretanto, separe as
mentiras das promessas e bata estas últimas em castelo bem firme (não tenha
medo da força que aplicar).
Junte as mentiras à
massa, misture bem e quando a massa estiver consistente, incorpore as promessas
suavemente mas de modo a ficarem bem ocultas.
Use os temperos
indicados acima da seguinte forma: ambição sem fim, ganância a rodos, falta de
vergonha e de palavra em abundância.
Unte à força com euro
uma forma de tipo Europa que tenha um buraco bem grande. Lembre-se que a forma
Europa tem a característica de roubar soberania a qualquer receita.
Leve a forno bem quente
o tempo que lhe apetecer. Retire e deixe esfriar. Guarde no frigorífico e
desenforme a cada quatro anos.
Enfeite com um de bem definido, na certeza de que na
mesa passará a da, e sirva.
Sabe a pouca
vergonhice oligárquica, impunidade, austeridade, sobrecarga fiscal, desemprego
e pobreza.
Tem sido esta a receita portuguesa
mais típica. Vamos alterá-la?
Leonor Martins de Carvalho
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