sexta-feira, 8 de março de 2013

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 58

O dia 7 de Março, ontem para vocês, hoje para quem escreve, é um dia muito especial. Faz anos o proprietário deste blogue e até a carteira sabe. Aproveitamos por isso para o felicitar neste dia. Gostamos tanto de o ter como patrão que, natural mas também interesseiramente, lhe desejamos imensos anos de vida.

Já agora os anos do João Marchante podem servir de mote para divagar sobre a vida, na sua faceta incontrolável que é a passagem dos anos.

É um velho com artifícios, o tempo.

Quando somos pequenos, a quase todos nos faz crer que qualquer sua ínfima divisão contém o infinito. Tão eterno é o segundo em que aprendemos a letra “a” como eterno é aquele em que mergulhamos no mar. Mas pode também ser desesperante essa eternidade. Nunca mais é hora do recreio, nunca mais são férias, nunca mais aprendemos aquela parte do livro que parece tão interessante... Lembro-me de achar que estava há alguns séculos à espera que o 6 do 1960 e tal, que escrevia todos os dias nos cadernos, passasse a 7. Rejubilei nesse dia. No entanto, contrariamente ao que tinha acontecido antes, essa novidade de escrever o 7 senti-a ainda como tal por mais uns anos.

Nalgumas situações já nos ia o tempo avisando que algo ia mudar. Quem não reagia com um pesaroso “Já?” quando os pais interrompiam a brincadeira com os amigos na hora de partir?

Mas esses foram os anos em que o tempo só estava a tomar balanço. Mal demos por isso e agora mesma divisão do tempo afinal tem a finitude do milésimo de segundo. É a idade em que ainda estamos de ressaca da passagem de ano e no dia seguinte é véspera de Natal. Custa-nos a acreditar, achamos injusto, percebemos finalmente a vergonhosa trapaça que o tempo nos escondia. Ficamos então com saudades do infinito e custa-nos gerir um outro tempo que nos ultrapassa pela direita desrespeitando todos os limites de velocidade. Em luta desesperada, tentamos eternizar momentos.

Penso que a astúcia não fica por aqui e que muito mais tarde o tempo nos voltará a conceder a eternidade no milésimo de segundo. Não já a da infância, mas uma outra, mais serena. Ou será que afinal isso é apenas a sabedoria que nos vai ensinar a domar o tempo? Não lutamos para o ultrapassar. Montamos, tomamos as rédeas e imprimimos o ritmo. O nosso.

Leonor Martins de Carvalho