CARTEIRA DE SENHORA
DIA 58
O dia 7 de Março,
ontem para vocês, hoje para quem escreve, é um dia muito especial. Faz anos o
proprietário deste blogue e até a carteira sabe. Aproveitamos por isso para o
felicitar neste dia. Gostamos tanto de o ter como patrão que, natural mas
também interesseiramente, lhe desejamos imensos anos de vida.
Já agora os anos do
João Marchante podem servir de mote para divagar sobre a vida, na sua faceta
incontrolável que é a passagem dos anos.
É um velho com
artifícios, o tempo.
Quando somos pequenos,
a quase todos nos faz crer que qualquer sua ínfima divisão contém o infinito.
Tão eterno é o segundo em que aprendemos a letra “a” como eterno é aquele em
que mergulhamos no mar. Mas pode também ser desesperante essa eternidade. Nunca
mais é hora do recreio, nunca mais são férias, nunca mais aprendemos aquela
parte do livro que parece tão interessante... Lembro-me de achar que estava há
alguns séculos à espera que o 6 do 1960 e tal, que escrevia todos os dias nos
cadernos, passasse a 7. Rejubilei nesse dia. No entanto, contrariamente ao que
tinha acontecido antes, essa novidade de escrever o 7 senti-a ainda como tal
por mais uns anos.
Nalgumas situações já
nos ia o tempo avisando que algo ia mudar. Quem não reagia com um pesaroso “Já?”
quando os pais interrompiam a brincadeira com os amigos na hora de partir?
Mas esses foram os
anos em que o tempo só estava a tomar balanço. Mal demos por isso e agora mesma
divisão do tempo afinal tem a finitude do milésimo de segundo. É a idade em que
ainda estamos de ressaca da passagem de ano e no dia seguinte é véspera de
Natal. Custa-nos a acreditar, achamos injusto, percebemos finalmente a vergonhosa
trapaça que o tempo nos escondia. Ficamos então com saudades do infinito e
custa-nos gerir um outro tempo que nos ultrapassa pela direita desrespeitando
todos os limites de velocidade. Em luta desesperada, tentamos eternizar
momentos.
Penso que a astúcia
não fica por aqui e que muito mais tarde o tempo nos voltará a conceder a
eternidade no milésimo de segundo. Não já a da infância, mas uma outra, mais
serena. Ou será que afinal isso é apenas a sabedoria que nos vai ensinar a
domar o tempo? Não lutamos para o ultrapassar. Montamos, tomamos as rédeas e
imprimimos o ritmo. O nosso.
Leonor Martins de Carvalho
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