sexta-feira, 12 de abril de 2013

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 62

A carteira hoje verga-se a uma introdução determinada pela proprietária (dela, que não da crónica).

A notícia da atribuição do Prémio Sir Geoffrey Jellicoe ao Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles tem que ser realçada, pela sua inteira justiça e pelo reconhecimento da dedicação da sua vida à arquitectura paisagista, não esquecendo a protecção da natureza e o ordenamento do território.

Mesmo que alguns assim pensem ou possam fazer crer, não são áreas estanques, estão intimamente ligadas e são interdependentes. No Arquitecto Ribeiro Telles, que os malfadados jornais acordistas teimam em transformar em arquiteto, seja lá o que isso for mas coisa boa não é com certeza, a visão sempre foi e será a da interdependência neste grande ecossistema em que vivemos.

Já assisti a sorrisos condescendentes, acenando que sim, que é muito importante, que respeitam muito o Arquitecto Ribeiro Telles, apenas para virar depois o olhar cúpido para o que verdadeiramente lhes interessa, refilando pelo que lhes parecem ser escolhos nos caminhos do lucro fácil.

A importância das hortas urbanas, a reabilitação do mundo rural e de um determinado tipo de agricultura como combate à desertificação, a protecção das aldeias, a denúncia das construções em leito das cheias, a defesa das mini-hídricas, a preservação do património urbano e paisagístico, a contestação da eucaliptização e da agricultura extensiva que faz perder a ligação à terra e provoca desequilíbrios, a criação das áreas protegidas, um olhar diferente para o ordenamento do território, foram alguns dos temas que sempre defendeu a par do exercício de uma arquitectura paisagista imbuída do mesmo espírito.

No fundo trata-se também da preservação da sabedoria de todo um povo que durante séculos aprendeu a conhecer o território que tinha em mãos e a aproveitar ao máximo aquilo que a terra e a paisagem lhe podem dar.

O arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles teve sempre razão mais de trinta anos antes. O grave é que as pessoas sabiam e ignoraram, sabem e ignoram. Tantas catástrofes se teriam evitado e poderiam evitar se o ouvissem. Não. Não basta ouvir. É mesmo seguir-lhe os passos.

Como fica claro, não entendo nada dos assuntos que domina, mas conheci-o durante a adolescência e respeito-o desde esses tempos. O pouco que penso saber aprendi com ele e não é difícil, porque instintivamente sabemos que tem razão. São ensinamentos sobre aquilo que nos está no sangue, mesmo que a visão dita moderna e progressista queira tentar negar. Afinal não há nada de mais actual do que aquilo que é verdadeiro.

Amor à terra e amor a Portugal resume como tem vivido a sua vida. Amor ao Rei é o corolário lógico do seu pensamento.

Era para ser uma introdução. Cresceu, ganhou asas e metamorfoseou-se em crónica. Nada a fazer. Rendo-me de sorriso aberto. Por quem é.

Leonor Martins de Carvalho