CADERNOS INTERATLÂNTICOS (18)
Sábado passado, dia 25 de Maio, a Argentina festejou o seu dia nacional. Em 1810, figuras emblemáticas da capital do então Vice-reinado do Rio da Prata, confrontados com a neutralização napoleónica de Fernando VII, a quem haviam jurado fidelidade, decidem autonomizar a imensa possessão ultramarina enquanto se mantivesse a usurpação da legítima Coroa de Espanha. Quer isto representasse ou não os verdadeiros propósitos da elite crioula a verdade é que este ensaio autonómico resultou, seis anos mais tarde, a 9 de julho de 1816, em separação definitiva da Madre Patria.
Entretanto, se a génese da Argentina deve-se ao Vice-reinado do Prata, este, por sua vez, deve-se... a Portugal. Explica-se: foi justamente a expansão portuguesa em direcção ao rio da Prata que provocou a iniciativa espanhola de criar um vice-reinado com capital em Buenos Aires, que converte-se, a partir de aí, de simples vila portuária em pujante cidade e centro de poder militar.
Em 1680 a Coroa Portuguesa fundava, às margens do Prata e exactamente em frente a Buenos Aires, a chamada colónia do Sacramento. Este facto marca simbolicamente o início de uma longa contenda – ora militar, ora diplomática, ora as duas modalidades em simultâneo, que apenas se resolve quase um século e meio mais tarde, com a criação – diplomática e com a chancela britânica (e maçónica) – do actual Uruguai. A cidade e porto de São Pedro do Rio Grande, a ilha de Santa Catarina, os famosos Sete Povos das Missões (jesuítas) – ou seja, todo o actual estado brasileiro do Rio Grande do Sul, são conquistados ou reconquistados e definitivamente incorporados na Coroa Portuguesa. A própria capital da República Oriental do Uruguai, Montevideo, tem origem lusa: A 22 de Novembro de 1723 tropas portuguseses alcançam a baía de Montevideo e aí assentam acampamento. Em Janeiro do ano seguinte são desalojados pelas forças espanholas enviadas desde Buenos Aires, as quais, prontamente, iniciam a construção de forte e aldeia, embrião da futura cidade. A relação com Portugal não se limita ao período XVII-XIX – foi Fernão de Magalhães quem, ao explorar a área em 1520, cartografou a baía e registou precisamente o monte sobre o qual se edificaria, e com a sua própria nomenclatura, a capital do futuro Uruguai. Outro dado curioso é que, no final do século XVIII, os portugueses constituíam um terço da população de Buenos Aires. O mobiliário e a prataria – de cuja riqueza vários museus e colecções particulares porteñas dão importante testemunho – eram, na sua maioria, obras de artífices lusos, quer radicados aqui, no Brasil português ou na metrópole europeia.
Enquanto os argentinos recordam o 25 de Maio de 1810, vou recordar aqueles portugueses de outros tempos que não mediram sacrifícios para defender os interesses e os direitos de Portugal buscando na América alguma compensação pela ocupação castelhana de 1580-1640. Mas a decadência dos povos não perdoa: dos heróis e legiões que dilataram o Império passámos aos traidores e às cáfilas que fizeram carreira com o esfacelamento físico e moral na única nação euro-ultramarina da História.
A propósito: amanhã é 28 de Maio. Recordemos aqueles que há oitenta e sete anos ousaram cortar o passo aos que levavam Portugal ao abismo. Toda a honra e toda a glória aos obreiros da restauração material e moral da Pátria.
Até para a semana.
Marcos Pinho de Escobar
Entretanto, se a génese da Argentina deve-se ao Vice-reinado do Prata, este, por sua vez, deve-se... a Portugal. Explica-se: foi justamente a expansão portuguesa em direcção ao rio da Prata que provocou a iniciativa espanhola de criar um vice-reinado com capital em Buenos Aires, que converte-se, a partir de aí, de simples vila portuária em pujante cidade e centro de poder militar.
Em 1680 a Coroa Portuguesa fundava, às margens do Prata e exactamente em frente a Buenos Aires, a chamada colónia do Sacramento. Este facto marca simbolicamente o início de uma longa contenda – ora militar, ora diplomática, ora as duas modalidades em simultâneo, que apenas se resolve quase um século e meio mais tarde, com a criação – diplomática e com a chancela britânica (e maçónica) – do actual Uruguai. A cidade e porto de São Pedro do Rio Grande, a ilha de Santa Catarina, os famosos Sete Povos das Missões (jesuítas) – ou seja, todo o actual estado brasileiro do Rio Grande do Sul, são conquistados ou reconquistados e definitivamente incorporados na Coroa Portuguesa. A própria capital da República Oriental do Uruguai, Montevideo, tem origem lusa: A 22 de Novembro de 1723 tropas portuguseses alcançam a baía de Montevideo e aí assentam acampamento. Em Janeiro do ano seguinte são desalojados pelas forças espanholas enviadas desde Buenos Aires, as quais, prontamente, iniciam a construção de forte e aldeia, embrião da futura cidade. A relação com Portugal não se limita ao período XVII-XIX – foi Fernão de Magalhães quem, ao explorar a área em 1520, cartografou a baía e registou precisamente o monte sobre o qual se edificaria, e com a sua própria nomenclatura, a capital do futuro Uruguai. Outro dado curioso é que, no final do século XVIII, os portugueses constituíam um terço da população de Buenos Aires. O mobiliário e a prataria – de cuja riqueza vários museus e colecções particulares porteñas dão importante testemunho – eram, na sua maioria, obras de artífices lusos, quer radicados aqui, no Brasil português ou na metrópole europeia.
Enquanto os argentinos recordam o 25 de Maio de 1810, vou recordar aqueles portugueses de outros tempos que não mediram sacrifícios para defender os interesses e os direitos de Portugal buscando na América alguma compensação pela ocupação castelhana de 1580-1640. Mas a decadência dos povos não perdoa: dos heróis e legiões que dilataram o Império passámos aos traidores e às cáfilas que fizeram carreira com o esfacelamento físico e moral na única nação euro-ultramarina da História.
A propósito: amanhã é 28 de Maio. Recordemos aqueles que há oitenta e sete anos ousaram cortar o passo aos que levavam Portugal ao abismo. Toda a honra e toda a glória aos obreiros da restauração material e moral da Pátria.
Até para a semana.
Marcos Pinho de Escobar
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