segunda-feira, 29 de julho de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (27)

Durante largos anos – quando ainda lia jornais – cultivei o hábito de guardar em ficheiros improvisados artigos e notas que pareciam de interesse. Com este costume vinha outro: o de comparar, de tempos em tempos, o que ali se comentava ou se previa, com que veio a produzir-se depois. A falta de espaço, mesmo mitigada pelos recursos da informática, impõe o ritual spring cleaning, nem sempre coincidente com a estação das flores. Pois foi durante a última arrumação que encontrei o comentário de um leitor a um artigo de Jean d´Ormesson, grande escritor e académico francês, publicado no Figaro, em janeiro de 2000, e que versava sobre os possíveis acontecimentos que marcariam significativamente o fim do século XX. Para o ilustre homme de lettres estes poderiam ser: a) uma explosão nuclear catastrófica, b) a descoberta de alguma forma de vida fora do planeta terra, c) a clonagem de um ser humano. Segundo o referido leitor, o autor do sublime Au plaisir de Dieu havia-se esquecido de mencionar o acontecimento mais provável e mais próximo: o desaparecimento da Europa actual sob o peso da imigração, processo em plena execução e que marca não o fim do século XX, mas o fim de vinte séculos de civilização cristã. Dou-lhe carradas de razão. Volvidas quatro décadas e meia sobre o alerta de Enoch Powell – quando ainda era possível barrar o fenómeno e inverter a tendência –, nada foi feito, ou melhor, tudo foi feito, mas ao contrário. Das fronteiras escancaradas passou-se à ausência de fronteiras, da imigração em massa chegou-se à invasão, ao desvirtuamento e banalização do conceito de nacionalidade, à subalternização desavergonhada do autóctone – em suma: à descarada substituição populacional. Aqui não há obra do acaso, nem dos elementos. É política traçada com régua e compasso. Os senhores da Europa sabem muito bem o que querem e para onde vão, mas não é bom o que querem nem é para o bem que nos estão a levar.

Até para a semana.

Marcos Pinho de Escobar