sábado, 13 de julho de 2013

DAS NOVAS FORMAS DE CONSERVAR A TRADICIONAL ARTE DE CONVERSAR

Durante anos a fio — os de saída da adolescência e entrada na idade adulta —, andei sempre com um caderno, de capa preta dura e folhas brancas lisas, metido na algibeira do blazer, ou do blusão de cabedal, ou na mão, estivesse eu num café, num cinema, numa tertúlia, num concerto, num fim-de-semana alucinante, ou numa viagem distante. Na sequência deste hábito, possuo dezenas deles guardados; mas, não convenientemente organizados. Tenho a clara sensação que ganharei em lê-los com bastante distância temporal, e sei que me surpreenderei quando o fizer. Só espero não me assustar com o que lá vier a ver quanto lhes puser de novo os olhos em cima. Anseio sim por encontrar lá registadas sínteses das melhores conversas que tive nesses saudosos anos.
Aqui, neste bloco de apontamentos dos novos tempos digitais, a coisa processa-se de diferente maneira; pois, todos os santos dias pomos a escrita em dia e deitamos conta à vida, através das mensagens anteriores e do arquivo (sempre à mão de semear). Acresce ainda a isto, muito especialmente, a interacção com amigos que nos enriquecem com oportunas trocas de opiniões feitas por computador, telemóvel, ou ditas de viva voz — por vezes até ao vivo e a cores (as melhores, porque mais saborosas). Desta forma, lançando pontes, trata-se já de conversar — essa superior arte que permite estabelecer e definir afinidades.
À laia de remate, posso dizer que consegui assim colocar ao meu serviço os modernos canais de comunicação, tendo no entanto a certeza de ser o tradicional contacto directo o fim que justifica a utilização dos novos meios.