sábado, 20 de julho de 2013

UMA VIDA LONGA E FRUTUOSA

Tive o privilégio de conhecer o Dr. António da Cruz Rodrigues quando ele já tinha realizado muitos projectos na vida e quando já tinha travado algumas batalhas políticas e culturais em que não foi possível acompanhá-lo, tais como o Centro de Estudos Sociais Vector, a Universidade Livre, ou a revista “Resistência”.

Se é verdade que o Dr. António da Cruz Rodrigues foi um homem de acção, tornou-se óbvio para quem esteve com ele em qualquer projecto de cariz cultural ou político, que ele também foi um homem de pensamento. Recordo-me de, a este propósito, me ter apontado Jean Ousset como uma das suas maiores referências na formação do seu pensamento social e político.

As preocupações culturais, sociais e políticas do nosso tempo foram para o Dr. António da Cruz Rodrigues verdadeiros desafios a que procurou dar resposta, sabendo congregar esforços e pessoas ao seu lado.

No campo cultural, além da revista “Resistência”, destaca-se a Editora Nova Arrancada e o Forum de Amizade Galiza-Portugal.

A Pátria, a Nação, foram sempre realidades políticas muito vivas, que colocou, sem dúvida, no centro do pensamento e da acção política. Ele falava de Pátria e de patriotismo quando era mal visto fazê-lo, nos idos de 70 e 80. Hoje, que a Pátria quase não existe, mergulhada em dívidas, os políticos do regime voltaram a lembrar-se da Pátria; não há hoje nenhum que não seja patriota.

Quando se tratou de sondar, afinal de contas, quem eram e o que pensavam os nacionalistas portugueses sobre os variados temas políticos, organizaram-se os Congressos Nacionalistas e esse objectivo foi cumprido. Nessas iniciativas teve relevância a Aliança Nacional como grupo de reflexão e dinamização, desde meados dos anos 90.

O Dr. António da Cruz Rodrigues tinha muito claro que para criar, debater, difundir ideias e fazer política com base em ideias não é preciso partidos políticos. Aliás, actualmente os partidos políticos parecem fazer tudo menos ter um corpo coerente de ideias e actuar em consequência. Há até partidos em que os seus candidatos se recusam a dizer o que pensam sobre variados assuntos, se é que pensam alguma coisa. Mas a verdade é que em política há sempre ideias por trás, mesmo, e sobretudo, quando os políticos garantem que não há. E isso é o pior de tudo, porque significa que querem esconder as agendas políticas reais, como temos visto acontecer nos últimos anos com a agenda da ideologia do género. Nas campanhas promete-se economia e crescimento. Depois, na legislação o que aparece é a ideologia do género e a questão homossexual.

Não obstante a actuação cultural, social e política do Dr. Cruz Rodrigues se ter pautado quase sempre por associações independentes de partidos, ele, em momentos pontuais da sua vida política, não fechou as portas a propostas de colaboração partidária, fosse antes como candidato à Câmara Municipal de Seia, fosse depois, de 2000 a 2002, como Presidente do Partido Nacional Renovador.

Mas, desengane-se quem pensa que a contribuição do Dr. Cruz Rodrigues para a sociedade portuguesa se fica por aqui. Nada disso. Ele foi um dos que sempre considerou que quando alguma coisa não está bem, a resposta é fazer melhor. E foi isso que ele fez em prol do ensino e da formação profissional através da Escola Profissional da Serra da Estrela, em Seia, tendo como horizonte o desenvolvimento da região da Beira Alta.

Pai de família numerosa, o Dr. Cruz Rodrigues teve na Fé Cristã a luz que guiou os seus passos na vida, com naturalidade e sem excentricidades. É por tudo isto que eu confidenciava há dias aos filhos que devíamos dar graças a Deus porque a sua vida neste mundo foi longa e frutuosa.

A minha mais sentida e emocionada homenagem ao Cristão, ao Português, ao Amigo.

Manuel Brás