segunda-feira, 12 de agosto de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (29)

“Fé e Império.  Destino da Pátria eterna! E contudo entre tantos milhões de portugueses, quantos há que compreendem e sintam isto, a fundo, e tenham consciência de que, reduzido à insignificância territorial do século XIV, Portugal teria perdido as suas feições históricas, o seu prestígio internacional, e a razão de ser da sua existência no Mundo?  Sem espaço físico para o Presente, sem ambições nem glória para o Futuro, sem expansão possível, económica, navegadora e emigratória, sem recursos nem de onde lhes viessem, sem possibilidades de existência independente – o que seriamos nós, Nação e indivíduos, perdidas dessa forma todas as forças morais e materiais? – o que seriamos nós mais que uns tolerados, sob a hegemonia de outros mais fortes e poderosos, e sobretudo, mais viris e dignos de mandar?” 

Não, estas linhas não foram retiradas de um discurso de Salazar.  Tampouco são da pena de algum perigoso fascista. O que aí está reproduzido é da lavra de Henrique de Paiva Couceiro, o “último defensor da Monarquia”, e que de estado-novista, como se sabe, não tinha nada. Elas servem para recordar como a defesa intransigente – conceptual, diplomática e militar – do Portugal euro-ultramarino estava longe de ser “teimosia pessoal” do antigo Presidente do Conselho, sendo noção profundamente enraizada na sociedade e partilhada por todo o arco político. Como já tinha prevenido Salazar, se nestes tempos os homens estavam divididos quanto à melhor forma de servir a Pátria, não faltaria muito para que a divisão passasse a ser entre os que a defendem e aqueles que a negam.  Amputado o Ultramar pela traição abrilina, regressámos – arruinados – à insignificância de que falava o homem da Monarquia do Norte. Suas palavras aplicam-se como uma luva: roubaram-nos a nossa identidade histórica, o nosso prestígio internacional, a nossa razão de ser. Deram cabo do nosso suporte moral e material, reduziram-nos à uma confrangedora exiguidade, deixaram-nos sem honra e sem futuro. Em suma: destruíram as nossas possibilidades de vida independente. Graças à canalha que saiu do esgoto em 74 deixámos de dar ordens a Neptuno e Marte para sermos uns meros “tolerados”.  Um luxo.

Até para a semana.

Marcos Pinho de Escobar