segunda-feira, 23 de setembro de 2013

CADERNOS INTERATLÂNTICOS (35)

Foi com profunda tristeza que recebi hoje pela manhã a notícia do falecimento do Prof. António José de Brito. Em Novembro do ano passado ajustei uma deslocação devida ao Porto para poder estar com ele no dia dos seus oitenta e cinco anos. Um monumento de saber, uma lógica implacável, uma memória prodigiosa e, ao mesmo tempo, uma verticalidade tranquila e evoliana, que não cede um grama dos princípios e dos valores, de um homem da sua estatura: de pé entre as ruínas de um mundo virado do avesso e de uma Pátria que a traição tornou exígua e exangue. E tudo sem perder a simplicidade espartana, a ironia ácida, o bom humor que é a manifestação da saúde da alma. Com o seu desaparecimento físico o Portugal autêntico fica ainda mais mais pobre e mais órfão. Em jeito de homenagem ao grande Mestre da filosofia e do nacionalismo português, deixo aqui um pequeno relato que publiquei acerca do nosso primeiro encontro:

Dei um salto ao Porto para conhecer e conversar com um fascista de verdade. Digo "de verdade" pois o vocábulo, esvaziado do seu conteúdo original e habilmente manipulado, foi transformado no pior insulto, usado pela metade da humanidade para desqualificar e condenar - definitivamente e sem perdão - tudo e todos de que/quem não gosta - isto é, a outra metade da mesma humanidade. Sim, este real McCoy, este autêntico nacional-revolucionário, este genuíno totalitário neo-fascista é o Professor António José de Brito. Do encontro com este monstro sagrado do pensamento anti-democrático português dos últimos cinquenta anos, cumpre registar neste curto espaço os aspectos que mais me impressionaram. Não vou referir a inteligência superior, a lógica implacável, a monumentalidade do saber, a trajectória "politicamente incorrecta" e rectilínea ao longo de toda uma vida - tal seria, na expressão de Nelson Rodrigues, o óbvio ululante. Chamo a atenção para a simplicidade e a simpatia, dois rasgos que dificilmente são associados à imagem do catedrático de nomeada. E para a espantosa memória e agilidade de raciocínio de alguém que, aos oitenta e três anos, é capaz de reduzir a pó de pedra interlocutores com um terço da sua idade. Se é certo que há momentos na vida que deixam uma marca indelével, este foi, com toda certeza, um deles.

Até para a semana, se Deus quiser.

Marcos Pinho de Escobar