CARTEIRA DE SENHORA
DIA 84
Não é a primeira vez que o dia da crónica ou a véspera coincidem com uma viagem de trabalho e os temas reflectiram isso mesmo. Esta é mais uma. Daí que a carteira não meta prego nem estopa na sua construção, porque o famoso jet lag afecta-a logo na ida, quanto mais na chegada. Que fique derrotada e de mau humor num canto qualquer.
A má gestão do pouco tempo disponível voltou a não permitir que apreciasse Estocolmo como merece e afectou também a crónica. Apenas apontamentos e notas dispersas sem qualquer fio condutor. Preparem-se então para mero alinhavo, bem torto porque agravado pela falta de jeito para a costura.
Muitos bebés suecos, logo no avião e presença constante na rua. Uma diferença flagrante em relação a Portugal.
As personagens de ficção científica mais estrambólicas são afinal pessoas reais, nada devem à imaginação. Percebi isso quando vi hoje uma Avatar. Só não era azul.
Nas casas de banho públicas, até no aeroporto, os lavatórios são sempre dentro dos locais destinados à retrete. Ou seja, a espera é sempre maior. Não descobri a razão lógica de tal disposição e não parece coisa de povo metódico.
É engraçado, nas horas de ponta, observarmos mais bichas de bicicletas do que de carros. E os afogueados do esforço, pedalando pela vida, são a prova viva de que também lá se chega atrasado…
Voltei a confirmar a crise de representação na Europa, mesmo em países onde este sistema está implantado há mais anos e sem as perversões muito nossas. Até me confessam o inimaginável para eles, a abstenção.
Quem esteve na Coreia do Sul diz-me que lá não se vêem livrarias. Todos lêem em aparelhos electrónicos. Este Mundo aproxima-se aterradoramente de uma mistura de argumentos de ficção científica, abarcando o 1984 e o Fahrenheit 451.
Também confirmei que, ninguém achando o presidente sírio boa peça, têm maior receio do que podem trazer os rebeldes, guerrilheiros bem armados, que muito têm perseguido os cristãos. Embora as notícias tentem disfarçar, todos sabem o que se tem passado com os cristãos no Iraque, no Irão, na Líbia, no Afeganistão, no Egipto e agora na Síria.
Podem não se ver muitas caixas multibanco, mas achei original existirem algumas em restaurantes ou bares.
Embora se veja arquitectura moderna, algumas vezes sóbria e bonita, podemos deliciar-nos com a preservação do património e até o aproveitamento de fábricas antigas para apartamentos.
Esplanadas e mais esplanadas. Os povos mais a norte sabem como ninguém aproveitar o ar livre até ao primeiro nevão.
Não me consigo concentrar no avião. Estes suecos são muito faladores. Ainda dizem mal dos espanhóis…
Agora, no metropolitano, estranhei a língua que alguns falavam. Acordei estremunhada. Português! Cheguei a casa.
Leonor Martins de Carvalho
Não é a primeira vez que o dia da crónica ou a véspera coincidem com uma viagem de trabalho e os temas reflectiram isso mesmo. Esta é mais uma. Daí que a carteira não meta prego nem estopa na sua construção, porque o famoso jet lag afecta-a logo na ida, quanto mais na chegada. Que fique derrotada e de mau humor num canto qualquer.
A má gestão do pouco tempo disponível voltou a não permitir que apreciasse Estocolmo como merece e afectou também a crónica. Apenas apontamentos e notas dispersas sem qualquer fio condutor. Preparem-se então para mero alinhavo, bem torto porque agravado pela falta de jeito para a costura.
Muitos bebés suecos, logo no avião e presença constante na rua. Uma diferença flagrante em relação a Portugal.
As personagens de ficção científica mais estrambólicas são afinal pessoas reais, nada devem à imaginação. Percebi isso quando vi hoje uma Avatar. Só não era azul.
Nas casas de banho públicas, até no aeroporto, os lavatórios são sempre dentro dos locais destinados à retrete. Ou seja, a espera é sempre maior. Não descobri a razão lógica de tal disposição e não parece coisa de povo metódico.
É engraçado, nas horas de ponta, observarmos mais bichas de bicicletas do que de carros. E os afogueados do esforço, pedalando pela vida, são a prova viva de que também lá se chega atrasado…
Voltei a confirmar a crise de representação na Europa, mesmo em países onde este sistema está implantado há mais anos e sem as perversões muito nossas. Até me confessam o inimaginável para eles, a abstenção.
Quem esteve na Coreia do Sul diz-me que lá não se vêem livrarias. Todos lêem em aparelhos electrónicos. Este Mundo aproxima-se aterradoramente de uma mistura de argumentos de ficção científica, abarcando o 1984 e o Fahrenheit 451.
Também confirmei que, ninguém achando o presidente sírio boa peça, têm maior receio do que podem trazer os rebeldes, guerrilheiros bem armados, que muito têm perseguido os cristãos. Embora as notícias tentem disfarçar, todos sabem o que se tem passado com os cristãos no Iraque, no Irão, na Líbia, no Afeganistão, no Egipto e agora na Síria.
Podem não se ver muitas caixas multibanco, mas achei original existirem algumas em restaurantes ou bares.
Embora se veja arquitectura moderna, algumas vezes sóbria e bonita, podemos deliciar-nos com a preservação do património e até o aproveitamento de fábricas antigas para apartamentos.
Esplanadas e mais esplanadas. Os povos mais a norte sabem como ninguém aproveitar o ar livre até ao primeiro nevão.
Não me consigo concentrar no avião. Estes suecos são muito faladores. Ainda dizem mal dos espanhóis…
Agora, no metropolitano, estranhei a língua que alguns falavam. Acordei estremunhada. Português! Cheguei a casa.
Leonor Martins de Carvalho
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