CARTEIRA DE SENHORA
DIA 85
Acabou-se a boa vida da carteira. Levantou-se a custo da espreguiçadeira, tirou com tristeza o chapéu e os óculos escuros e preparou-se com afinco para o trabalho árduo.
Já estamos quase todos de regresso. Desta vez um regresso com direito a aterragem em plena pré-campanha eleitoral para as autárquicas, seguida da campanha propriamente dita e é impossível não dar por isso.
Desde os inesperados melhoramentos proporcionados tanto pelos que vão sair (a pensar na estátua ou na lápide?) como pelos que querem prolongar a estada no pelouro, aos cartazes para todos os gostos (mais para o mau gosto, mas faz parte), a poluição visual e sonora não nos larga.
É escusado falar da pouca-vergonha que proporcionou a que actualmente é a mais célebre preposição portuguesa, as contradanças dignas de campeonato mundial de danças de salão. Até nem sou contra mandatos sucessivos ilimitados, desde que as pessoas em causa sejam eficientes e honestas. Bastava que as investigações das obscuridades e a justiça fossem céleres. E gente mais atenta às contas e aos negócios, que se preocupasse com a preservação do que é seu, sem ir na conversa do “moderno” ou do “progresso”. Atrás de cada uma destas palavras está um construtor, um promotor ou um banco, geralmente até em trio cantador com camartelo atrás das costas.
Com a extinção e agregação forçada de freguesias, que diminuiu o número daqueles Presidentes de Junta que eram quase voluntários, pretendeu-se tornar cada vez mais centralizada e assim, ainda mais partidária, a decisão que devia ser local, utilizando, é claro, a desculpa económica (no caso até falsa) para mais uma decisão política ao gosto dos partidos. Abriu-se o caminho para o aumento dos tachos quando havia ainda em muitos sítios o sentido do Serviço. Começou a jigajoga dos lugares.
Não gosto das troças que grassam nas redes sociais sobre os nomes, os cartazes e os slogans. Claro que sorrio com certas coincidências, os slogans pobrezinhos ou até ridículos, os retratos caricatos, mas depois penso que muitos dos que concorrem são pessoas de boa vontade e fazem o que podem com os meios que têm. E espero bem que tenham orgulho nos seus nomes e nos das suas terras por mais estapafúrdios que sejam. Carregam a História de Portugal.
Era nestas eleições que, em princípio, se votava mais nas pessoas do que nos partidos, mas até nos boletins se vê a falácia. Nada de fotografias dos candidatos. Só símbolos. Além disso, embora as candidaturas independentes sejam toleradas, têm a vida extremamente dificultada. Era bom que onde concorrem verdadeiros independentes, desde que pessoas idóneas (e sabe-se quem são), as pessoas votassem em massa. Seria uma bela lição.
Também era bom que não fosse assim, este triste espectáculo. O poder central em tentáculos estranguladores. Perderam-se as antigas liberdades.
Leonor Martins de Carvalho
Acabou-se a boa vida da carteira. Levantou-se a custo da espreguiçadeira, tirou com tristeza o chapéu e os óculos escuros e preparou-se com afinco para o trabalho árduo.
Já estamos quase todos de regresso. Desta vez um regresso com direito a aterragem em plena pré-campanha eleitoral para as autárquicas, seguida da campanha propriamente dita e é impossível não dar por isso.
Desde os inesperados melhoramentos proporcionados tanto pelos que vão sair (a pensar na estátua ou na lápide?) como pelos que querem prolongar a estada no pelouro, aos cartazes para todos os gostos (mais para o mau gosto, mas faz parte), a poluição visual e sonora não nos larga.
É escusado falar da pouca-vergonha que proporcionou a que actualmente é a mais célebre preposição portuguesa, as contradanças dignas de campeonato mundial de danças de salão. Até nem sou contra mandatos sucessivos ilimitados, desde que as pessoas em causa sejam eficientes e honestas. Bastava que as investigações das obscuridades e a justiça fossem céleres. E gente mais atenta às contas e aos negócios, que se preocupasse com a preservação do que é seu, sem ir na conversa do “moderno” ou do “progresso”. Atrás de cada uma destas palavras está um construtor, um promotor ou um banco, geralmente até em trio cantador com camartelo atrás das costas.
Com a extinção e agregação forçada de freguesias, que diminuiu o número daqueles Presidentes de Junta que eram quase voluntários, pretendeu-se tornar cada vez mais centralizada e assim, ainda mais partidária, a decisão que devia ser local, utilizando, é claro, a desculpa económica (no caso até falsa) para mais uma decisão política ao gosto dos partidos. Abriu-se o caminho para o aumento dos tachos quando havia ainda em muitos sítios o sentido do Serviço. Começou a jigajoga dos lugares.
Não gosto das troças que grassam nas redes sociais sobre os nomes, os cartazes e os slogans. Claro que sorrio com certas coincidências, os slogans pobrezinhos ou até ridículos, os retratos caricatos, mas depois penso que muitos dos que concorrem são pessoas de boa vontade e fazem o que podem com os meios que têm. E espero bem que tenham orgulho nos seus nomes e nos das suas terras por mais estapafúrdios que sejam. Carregam a História de Portugal.
Era nestas eleições que, em princípio, se votava mais nas pessoas do que nos partidos, mas até nos boletins se vê a falácia. Nada de fotografias dos candidatos. Só símbolos. Além disso, embora as candidaturas independentes sejam toleradas, têm a vida extremamente dificultada. Era bom que onde concorrem verdadeiros independentes, desde que pessoas idóneas (e sabe-se quem são), as pessoas votassem em massa. Seria uma bela lição.
Também era bom que não fosse assim, este triste espectáculo. O poder central em tentáculos estranguladores. Perderam-se as antigas liberdades.
Leonor Martins de Carvalho
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