CARTEIRA DE SENHORA
DIA 86
Não prometo pois não sou política, mas esta poderá vir a ser uma crónica a dois tempos. O antes e o depois de um evento. Não sei se a carteira vai comigo, mas levo a cesta, que é outra das minhas fiéis companheiras.
O evento de que falo é uma sessão em memória de José Hipólito Raposo, meu avô, a propósito dos sessenta anos da sua morte e antecedendo também os cem anos do Integralismo Lusitano.
Embora nenhum dos dezasseis netos o tenha conhecido pessoalmente (a mais velha tinha nascido há pouco tempo quando morreu) a família soube - e de que maneira! -preservar a sua memória. Crescemos todos a ter-lhe respeito e a honrá-lo, sempre com um orgulho imenso. Conhecemos algumas das histórias, o seu percurso difícil, o seu humor especial e mesmo sem os conhecermos, os seus companheiros políticos sempre foram nossos tios. Tal como são família, os seus descendentes.
Só temos de agradecer aos nossos pais e tios (João, José, Teresa, Isabel, António e Francisco) essa capacidade, esse dom de manter viva a herança. Alguns netos nem sequer leram livros de Hipólito Raposo, nem conhecem bem a sua doutrina, mas a sua memória ficou impressa de forma indelével. Saber honrar essa doação e conseguir passá-la aos nossos filhos, é agora a nossa missão.
Lembro-me de quando era pequena a mãe dizer que o avô tinha sido escritor. Um avô escritor! Logo aquilo que eu achava mais importante na vida… Quanta honra! Ingénua, todos os anos ia directa ao índice dos livros ou selectas literárias que usávamos para a disciplina de Português e procurava textos do tal avô escritor. E todos os anos sofria a mesma decepção. Não compreendia. Acabei por me resignar e penso que nem cheguei a perguntar porquê.
Cheguei perto da sua doutrina por instinto, ou estava inscrita nos genes, não sei. Era mesmo esquisito. Então as opiniões que, altaneira, convictamente pensava serem só minhas, eram afinal as do avô ou muito próximas? Passou-me logo o convencimento.
Espero que a sessão lhe faça justiça e que possa dar a conhecer a mais pessoas o seu pensamento e a sua vida.
Com a presença de descendentes dos seus melhores amigos, desde Almeida Braga e Monsaraz a Cabral de Moncada e Pinto de Mesquita, com assistência interessada e oradores entusiastas, fez-se justiça. Ao pensador, ao político, ao escritor, ao Homem.
Um vencido que para nós é eterno vencedor. Nas nossas almas. E guardamos ainda a esperança.
Leonor Martins de Carvalho
Não prometo pois não sou política, mas esta poderá vir a ser uma crónica a dois tempos. O antes e o depois de um evento. Não sei se a carteira vai comigo, mas levo a cesta, que é outra das minhas fiéis companheiras.
O evento de que falo é uma sessão em memória de José Hipólito Raposo, meu avô, a propósito dos sessenta anos da sua morte e antecedendo também os cem anos do Integralismo Lusitano.
Embora nenhum dos dezasseis netos o tenha conhecido pessoalmente (a mais velha tinha nascido há pouco tempo quando morreu) a família soube - e de que maneira! -preservar a sua memória. Crescemos todos a ter-lhe respeito e a honrá-lo, sempre com um orgulho imenso. Conhecemos algumas das histórias, o seu percurso difícil, o seu humor especial e mesmo sem os conhecermos, os seus companheiros políticos sempre foram nossos tios. Tal como são família, os seus descendentes.
Só temos de agradecer aos nossos pais e tios (João, José, Teresa, Isabel, António e Francisco) essa capacidade, esse dom de manter viva a herança. Alguns netos nem sequer leram livros de Hipólito Raposo, nem conhecem bem a sua doutrina, mas a sua memória ficou impressa de forma indelével. Saber honrar essa doação e conseguir passá-la aos nossos filhos, é agora a nossa missão.
Lembro-me de quando era pequena a mãe dizer que o avô tinha sido escritor. Um avô escritor! Logo aquilo que eu achava mais importante na vida… Quanta honra! Ingénua, todos os anos ia directa ao índice dos livros ou selectas literárias que usávamos para a disciplina de Português e procurava textos do tal avô escritor. E todos os anos sofria a mesma decepção. Não compreendia. Acabei por me resignar e penso que nem cheguei a perguntar porquê.
Cheguei perto da sua doutrina por instinto, ou estava inscrita nos genes, não sei. Era mesmo esquisito. Então as opiniões que, altaneira, convictamente pensava serem só minhas, eram afinal as do avô ou muito próximas? Passou-me logo o convencimento.
Espero que a sessão lhe faça justiça e que possa dar a conhecer a mais pessoas o seu pensamento e a sua vida.
Com a presença de descendentes dos seus melhores amigos, desde Almeida Braga e Monsaraz a Cabral de Moncada e Pinto de Mesquita, com assistência interessada e oradores entusiastas, fez-se justiça. Ao pensador, ao político, ao escritor, ao Homem.
Um vencido que para nós é eterno vencedor. Nas nossas almas. E guardamos ainda a esperança.
Leonor Martins de Carvalho
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