sexta-feira, 4 de outubro de 2013

CARTEIRA DE SENHORA

DIA 87

A carteira atarantou-se. Há semanas em que lhe faltam temas, outras em que são demais, como nesta. Tamanha foi a hesitação que mesmo após uma liça ganhou a incapacidade de decisão. Deu-me a escolher.

Este próximo sábado é 5 de Outubro, tornado dia não feriado, à semelhança de outros, graças à espinha dobrada perante uma espécie moderna do trio de cônsules napoleónicos, no qual Bonaparte é agora toda uma estrutura política e financeira.

Nesse dia, alguns comemoravam a implantação da República e outros, uma das datas fundacionais da nossa Pátria, correspondendo à assinatura do tratado de Zamora.

Nunca entendi a celebração de um episódio sangrento levado a cabo por alguns e da imposição, por muito poucos, de uma situação, para mim, ainda passageira. Diferente é festejar a nossa existência como Nação, um símbolo de perenidade.

Porque já não se comemoram em Portugal as datas realmente importantes, as que simbolizam deveras a História destes oitocentos e setenta anos (870!) que se celebram sábado?

Penso que é de propósito. Assim, mais facilmente se ajuda a apagar a História, para que um dia, já não tão longínquo quanto isso, ela seja contada sorrateiramente de outra forma, esbatida até mal se ver, confundida e diluída na História de outrem.

Falta-nos um dia da Fundação e um dia da Independência, no nosso caso, da sua Restauração. 

Sem ambos, é como se nem existisse Portugal. Como se o seu nome tivesse caído do céu aos trambolhões neste rectângulo. Como se não fosse um País, mas apenas uma zona de interesse turístico. Como se não existisse uma História de oitocentos e setenta anos e tudo tivesse começado em 1986, outra vez por decisão de uns poucos. 

Cabe-nos manter vivo (porque a outros não interessa) o orgulho na nossa Fundação, na nossa História, no nosso papel na História de outros, na heróica Restauração e naqueles que ao longo dos séculos foram forjando a identidade de Portugal, pugnando também por dias feriados que os relembrem condignamente.

Leonor Martins de Carvalho