terça-feira, 7 de julho de 2015

DA POESIA NA FILOSOFIA TOMISTA

Costuma-se dizer que S. Tomás de Aquino, ao contrário de S. Francisco de Assis, não permitiu na sua obra o elemento indescritível da poesia, uma vez que, por exemplo, nela existem poucas referências a quaisquer prazeres nas flores e frutos reais das coisas naturais, embora ali esteja toda a preocupação com as raízes da natureza. Mesmo assim, confesso que, ao ler a sua filosofia, tive uma impressão muito peculiar e intensa, análoga à produzida pela poesia. É bastante curioso que essa filosofia se assemelhe mais, em alguns aspectos, à pintura, lembrando-me bastante do efeito produzido pelos melhores pintores modernos quando lançam uma estranha e quase crua luz sobre objectos escuros e rectangulares, ou quando parecem estar antes tacteando do que apreendendo as próprias colunas da mente subconsciente. Isso provavelmente ocorre porque há na obra de S. Tomás de Aquino uma qualidade primitiva, no melhor sentido de uma palavra tão desgastada; mas, seja como for, o prazer é claramente não só da razão mas também da imaginação.
In S. Tomás de Aquino, de G. K. Chesterton.